Jânio Quadros, o prefeito dos bilhetinhos e da
vassourinha
Ao ver, na Internet, que o centenário de nascimento do
ex-presidente Jânio Quadros foi comemorado com uma exposição, durante três dias
no Palácio dos Bandeirantes, aberta ao público, acionei o botão da minha
memória. E voltei ao período de 1986 a 1989, quando trabalhei na sua Assessoria
de Imprensa, após ser eleito pela
segunda vez prefeito de São Paulo.
Sua primeira passagem pelo cargo
foi de 1953 a 1955.
Não vou falar sobre a trajetória política e a vida pública
de Jânio, registradas nos livros de história e nos acervos da mídia. Principalmente o dramático e até hoje
controvertido episódio de sua renúncia, em 25 de agosto de 1961, depois de sete
meses como presidente da República,
cargo para o qual foi eleito com 5,6 milhões de votos. A maior votação até então conseguida no
Brasil.
Cada prefeito que acompanhei, desde Olavo Setubal até
Fernando Haddad, deixou suas marcas, com obras de maior ou menor importância para a cidade. Mas,
o que o diferenciou de todos os que o antecederam e o sucederam, seja na
Prefeitura, Governo do Estado e até na Presidência foi a forma como se
comunicava, por meio de bilhetes, sempre bem curtos e com sua assinatura. Na realidade, não passavam de memorandos ou
ordens internas, publicadas no Diário Oficial e que pelo seu formato a midia
apelidou de “bilhetinhos do Jânio”.
Aos
que o criticavam, respondia que era para se comunicar diretamente com
ministros, secretários e assessores, eliminando a burocracia. As más
linguas diziam que ele teria copiado o
método de Wiston Churchill, que usava este
expediente durante a Guerra.
Durante seus mandatos, quer no âmbito municipal, como no
estadual e federal executava ações que passavam uma imagem de moralização da
administração pública e de combate à corrupção. Em suas campanhas usava como
símbolo uma vassoura, acompanhado por um jingle, inspirado por sua mulher, Eloá
Quadros, e cujos versos iniciais eram “varre, varre vassourinha, varre,varre a bandalheira, que o povo já tá cansado de sofrer
dessa maneira”. Um mote bem apropriado para ser cantado pelos eleitores nos
tempos de hoje.
Outra característica de sua gestão à frente da Prefeitura:
visitas surpresas aos órgãos públicos para conferir a qualidade dos serviços oferecidos
à população. E quando deixava seu gabinete no Ibirapuera, aplicava, pessoalmente,
multas aos motoristas infratores,
particularmente os que paravam sobre as faixas de pedestres.
Testemunhei várias vezes ele dar ordens ao Major Cláudio
Coutinho, seu assistente militar que o acompanhava sempre, para apreender a carteira
do motorista e o multasse, determinando que o infrator fosse buscar o documento
no seu gabinete depois de pagar a multa. Em outras ocasiões, ao observar o dono
de um bar ou lanchonete varrendo o seu lixo para a calçada ou via pública, o
prefeito descia do carro e aos gritos mandava que o comerciante recolhesse os detritos. Todas estas ações se transformavam em bilhetinhos publicados no
Diário Oficial do Município e eram classificados pela mídia de factoides.
Algumas leis ou decretos sancionados ao longo de sua administração
causaram grande repercussão e geravam críticas da oposição, como a proibição de
jogos de sunga e o uso de biquínis fio-dental no Parque Ibirapuera; das rinhas de galo, a prática
do skate nas ruas da cidade, obrigar a Escola de Balé do Teatro Municipal
a expulsar alguns alunos tido como homossexuais e mandar fechar os oito cinemas
que iriam exibir o filme ‘A Última
Tentação de Cristo’, de Madrtin Scorsese, que entraria em cartaz no início de
1989, por considerá-lo desrespeitoso à fé cristã.
Também entraram para a história declarações, desabafos e
frases, tanto em eventos públicos como nos contatos com a mídia, nem sempre
muito amistosos. Um exemplo disso aconteceu quando uma repórter de um jornal conceituado pediu
a sua opinião sobre o homossexualismo, tratando-o por você. Jânio respondeu: “Intimidade demais provoca
duas coisas : aborrecimentos e filhos e como não quero intimidade com a senhora
e muito menos filhos, trate-me por Senhor. Exijo respeito”.
foto acervo/ estadão |
Defensor do vernáculo, como advogado e professor que foi,
equivocadamente lhe atribuiram a frase “ Fi-lo porque quilo”, quando na verdade
o prefeito disse “Fi-lo porque o quis”. Jânio,
não era segredo para ninguém, apreciava uma bebida. Duurante um evento
social, quando presidente da República, um repórter indagou
porque ele bebia. Jânio não deixou por menos e deixou o jornalista sem graça
com esta resposta: “Bebo-o porque é líquido, se fosse sólido, comê-lo-ia”.
foto acervo/ estadão |
No dia seguinte à sua segunda posse na Prefeitura, janeiro
de 1986, um episódio insólito teve repercussão nacional e até no Exterior. O
candidato por ele derrotado, Fernando Henrique Cardoso, que todos já davam como
vencedor, atendeu ao pedido da revista Veja e posou para uma foto sentado na
cadeira do prefeito, no gabinete do Ibirapuera. Jânio chamou os jornalistas e
com um tubo de inseticida nas mãos afirmou: “Estou desinfetando a poltrona
porque nádegas indevidas a usaram”.
foto acervo/ estadão |
Igualmente testemunhei
quando Jânio pendurou na porta que dava acesso ao seu gabinete um par de chuteiras, que ganhou do então
presidente do Corinthians, Vicente
Mateus, para deixar claro que não disputaria eleição para qualquer cargo depois
que deixasse a Prefeitura. E, dez dias antes de concluir seu mandato, viajou
para Londres, onde passou o réveillon, não participando da solenidade de posse
de Luiza Erundina, prefeita eleita para o período de 1989 a 1992. A incumbência
ficou para Cláudio Lembo, seu secretário
dos Negócios Jurídicos.
Já estava com a saúde bastante frágil e que se agravou após a morte da mulher, Eloá,
vítima de câncer, em novembro de 1990. Convocou a imprensa e anunciou sua
aposentadoria definitiva da política. Nos
últimos meses de sua vida, Jânio esteve internado em clínicas de repouso e
hospitais, até falecer em 16 de fevereiro de 1992, no Hospital Albert Einstein,
depois de três derrames celebrais.
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Olha eu aqui de novo! Estou acompanhando sempre que possível! Grandes histórias Beijos meu querido, Orlando!
ResponderExcluirBoa tarde Rosana. Obrigado pela sua atenção. É sempre um estímulo ter o apoio dos amigos. Abraços.
ExcluirOi amor. Tem peculiaridades, que muita gente não sabia, você continua com sua mente sempre em cima para lembrar de fatos interessantes como os que você posta. Bj.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOi amor. Que bom que você gostou de mais este post. Espero continuar com minha memória funcionando quando preciso dela... Meu carinho de sempre
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