quarta-feira, 3 de maio de 2017

Jânio Quadros, o prefeito dos bilhetinhos e da vassourinha

Ao ver, na Internet, que o centenário de nascimento do ex-presidente Jânio Quadros foi comemorado com uma exposição, durante três dias no Palácio dos Bandeirantes, aberta ao público, acionei o botão da minha memória. E voltei ao período de 1986 a 1989, quando trabalhei na sua Assessoria de Imprensa, após ser eleito pela  segunda vez prefeito de São Paulo.  Sua primeira passagem  pelo cargo foi de 1953 a 1955.

Não vou falar sobre a trajetória política e a vida pública de Jânio,  registradas  nos livros de história e nos acervos da mídia.  Principalmente o dramático e até hoje controvertido episódio de sua renúncia, em 25 de agosto de 1961, depois de sete meses como presidente  da República, cargo para o qual foi eleito com 5,6 milhões de votos.  A maior votação até então conseguida no Brasil.

Cada prefeito que acompanhei, desde Olavo Setubal até Fernando Haddad, deixou suas marcas, com obras de  maior ou menor importância para a cidade. Mas, o que o diferenciou de todos os que o antecederam e o sucederam, seja na Prefeitura, Governo do Estado e até na Presidência foi a forma como se comunicava, por meio de bilhetes, sempre bem curtos e com sua assinatura.  Na realidade, não passavam de memorandos ou ordens internas, publicadas no Diário Oficial e que pelo seu formato a midia apelidou de “bilhetinhos  do Jânio”. 

Aos que o criticavam, respondia que era para se comunicar diretamente com ministros, secretários e assessores, eliminando a burocracia. As más linguas  diziam que ele teria copiado o método de Wiston Churchill, que  usava este expediente durante a Guerra.  

Durante seus mandatos, quer no âmbito municipal, como no estadual e federal executava ações que passavam uma imagem de moralização da administração pública e de combate à corrupção. Em suas campanhas usava como símbolo uma vassoura, acompanhado por um jingle, inspirado por sua mulher, Eloá Quadros, e cujos versos iniciais eram “varre, varre vassourinha, varre,varre  a bandalheira, que o povo já tá cansado de sofrer dessa maneira”. Um mote bem apropriado para ser cantado pelos eleitores nos tempos de hoje.

Outra característica de sua gestão à frente da Prefeitura: visitas surpresas aos órgãos públicos para conferir a qualidade dos serviços oferecidos à população. E quando deixava seu gabinete no Ibirapuera, aplicava, pessoalmente, multas aos motoristas  infratores, particularmente os que paravam sobre as faixas de pedestres.

 Testemunhei  várias  vezes ele dar ordens ao Major Cláudio Coutinho, seu assistente militar que o acompanhava sempre, para apreender a carteira do motorista e o multasse, determinando que o infrator fosse buscar o documento no seu gabinete depois de pagar a multa. Em outras ocasiões, ao observar o dono de um bar ou lanchonete varrendo o seu lixo para a calçada ou via pública, o prefeito descia do carro e aos gritos mandava que o comerciante recolhesse os detritos. Todas estas ações se transformavam em bilhetinhos publicados no Diário Oficial do Município e eram classificados pela mídia de factoides.  

Algumas leis ou decretos sancionados ao longo de sua administração causaram grande repercussão e geravam críticas da oposição, como a proibição de jogos de sunga e o uso de biquínis fio-dental no  Parque Ibirapuera; das rinhas de galo, a prática do skate nas ruas da cidade, obrigar a Escola de Balé do Teatro Municipal a expulsar alguns alunos tido como homossexuais e mandar fechar os oito cinemas que iriam exibir o filme  ‘A Última Tentação de Cristo’, de Madrtin Scorsese, que entraria em cartaz no início de 1989, por considerá-lo desrespeitoso à fé cristã.

Também entraram para a história declarações, desabafos e frases, tanto em eventos públicos como nos contatos com a mídia, nem sempre muito amistosos. Um exemplo disso aconteceu  quando uma repórter de um jornal conceituado pediu a sua opinião sobre o homossexualismo, tratando-o por você.  Jânio respondeu: “Intimidade demais provoca duas coisas : aborrecimentos e filhos e como não quero intimidade com a senhora e muito menos filhos, trate-me por Senhor. Exijo respeito”.

foto acervo/ estadão
Defensor do vernáculo, como advogado e professor que foi, equivocadamente lhe atribuiram a frase “ Fi-lo porque quilo”, quando na verdade o prefeito disse “Fi-lo porque o quis”.  Jânio,  não era segredo para ninguém,  apreciava uma bebida. Duurante um evento social,  quando  presidente da República, um repórter indagou porque ele bebia. Jânio não deixou por menos e deixou o jornalista sem graça com esta resposta: “Bebo-o porque é líquido, se fosse sólido, comê-lo-ia”.

foto acervo/ estadão
No dia seguinte à sua segunda posse na Prefeitura, janeiro de 1986, um episódio insólito teve repercussão nacional e até no Exterior. O candidato por ele derrotado, Fernando Henrique Cardoso, que todos já davam como vencedor, atendeu ao pedido da revista Veja e posou para uma foto sentado na cadeira do prefeito, no gabinete do Ibirapuera. Jânio chamou os jornalistas e com um tubo de inseticida nas mãos afirmou: “Estou desinfetando a poltrona porque nádegas indevidas a usaram”.

foto  acervo/ estadão
Igualmente testemunhei  quando Jânio pendurou na porta que dava acesso ao seu gabinete  um par de chuteiras, que ganhou do então presidente  do Corinthians, Vicente Mateus, para deixar claro que não disputaria eleição para qualquer cargo depois que deixasse a Prefeitura. E, dez dias antes de concluir seu mandato, viajou para Londres, onde passou o réveillon, não participando da solenidade de posse de Luiza Erundina, prefeita eleita para o período de 1989 a 1992. A incumbência ficou para Cláudio Lembo,  seu secretário dos Negócios Jurídicos.

Já estava com a saúde bastante frágil  e que se agravou após a morte da mulher, Eloá, vítima de câncer, em novembro de 1990. Convocou a imprensa e anunciou sua aposentadoria definitiva da política.  Nos últimos meses de sua vida, Jânio esteve internado em clínicas de repouso e hospitais, até falecer em 16 de fevereiro de 1992, no Hospital Albert Einstein, depois de três derrames celebrais.

#janioquadros#
#janioprefeito#


5 comentários:

  1. Olha eu aqui de novo! Estou acompanhando sempre que possível! Grandes histórias Beijos meu querido, Orlando!

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    1. Boa tarde Rosana. Obrigado pela sua atenção. É sempre um estímulo ter o apoio dos amigos. Abraços.

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  2. Oi amor. Tem peculiaridades, que muita gente não sabia, você continua com sua mente sempre em cima para lembrar de fatos interessantes como os que você posta. Bj.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Oi amor. Que bom que você gostou de mais este post. Espero continuar com minha memória funcionando quando preciso dela... Meu carinho de sempre

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