A Penha quer Parque e não
duas Torres no lugar do Seminário
Mesmo um pouco escondida pelas árvores de sua grande área
ajardinada, que incluem até frutíferas, como um pé de jaca, a fachada do prédio
de três pavimentos pode ser vista pelos pedestres que diariamente passam pela
calçada da rua Santo Afonso, 107, na Penha, Zona Leste da cidade. Na parte da
frente, a construção conserva o antigo frontispício, alpendre e escadarias. A
pintura é de cor amarela, bastante desgastada pelo tempo e falta de manutenção.
Na parte de trás, fica o restante da grande construção que durante décadas fez
parte do cotidiano da vida religiosa do tradicional bairro. Um dos mais
importantes na história de São Paulo, antes e depois da Independência do
Brasil, e que registra a passagem por suas colinas de dois Imperadores: Dom
Pedro I (1822) e Dom Pedro II (1886)..
O patrimônio, que tem uma ligação afetiva muito estreita com
a comunidade penhense, corre sério risco de desaparecer. O pesadelo começou em
2009, quando uma construtora manifestou, junto à Mitra Diocesana de São Miguel,
proprietária da área, seu interesse em erguer no local duas torres de
apartamentos, com 25 andares cada uma.
Fotos de Eduardo Morelli e
Douglas Nascimento
|
A comunidade, por meio de suas lideranças e entidades
como o Memorial Penha de França, se mobilizou e iniciou uma luta para a
preservação do antigo Seminário e assim evitar sua demolição. Houve ate um
seminário para discutir as medidas com este objetivo. E como consequência, a
própria Subprefeitura, atualmente Prefeitura Regional, após reuniões e visitas
ao local, acompanhadas de membros do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e
Ambiental (Conpresp), se posicionou pelo tombamento do prédio.
Para fundamentar sua decisão, a antiga Administração
Regional da Penha destacou que a construção está incluída no conjunto dos
espaços públicos e traçado urbano integrantes do Centro Histórico da Penha, de
acordo com o Plano Estratégico Regional da Prefeitura da Penha. A área, após o
tombamento, seria enquadrada como ZEPEC
– Zona Especial de Preservação Cultural para o bairro da Penha. Outros imóveis,
como o Santuário da Penha, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos e o Colégio Estadual Santos Dumont, por exemplo, já foram tombados pelo
Estado e o Município e estão na ZEPEC.
O processo solicitando o tombamento do seminário foi
aberto em setembro de 2007 no Conpresp e também exaustivamente analisado pelo Departamento
do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura.
Por outro lado, depois de enfrentar problemas, por várias
vezes, com o aluguel do prédio do Seminário (houve uma ação de despejo contra o
locador em 2006 por falta de pagamento), a Mitra Diocesana, com apoio de outros
moradores e aval de alguns políticos da região, como o vereador Toninho Paiva
(ex-conselheiro do Conpresp) fechou um acordo com a construtora Stuhlberg para a
demolição do edifício e a execução do projeto imobiliário.
Para desalento e surpresa dos que são favoráveis ao
tombamento e contra a construção das torres, em recente resolução o Conpresp,
que anteriormente havia acenado ser favorável, emitiu parecer contrário ao
tombamento. O orgão concluiu que o Seminário não tem o valor arquitetônico alegado,
depois de passar por tantas reformas, e o atual estado de deterioração de suas
instalações inviabiliza a sua recuperação para ser destinado para qualquer
finalidade. Justifica, portanto, sua demolição.
Mas os representantes da comunidade não desistiram da
luta. Afinal, sonhar é preciso e estão reivindicando ao Conpresp que, se
realmente houver a construção das torres, e em caso de demolição, sejam
preservadas a fachada do imóvel e a área arborizada, e estudada a possibilidade
da construção de um parque aberto ao público.
Fotos de Eduardo Morelli e
Douglas Nascimento
|
Existe um fio de esperança, que sempre é a última que
morre, como diz o ditado: pelos gabaritos estabelecidos pelo atual Plano Estratégico
Regional, não é permitida a construção de edifícios com a altura pretendia pela
imobiliária. Isso, segundo informações que chegaram ao conhecimento dos
diretores do Memorial Penha de França, levou a construtora a se desinteressar
pelo seu empreendimento.
Porem, vai ser necessário força política e muitas orações
à Nossa Senhora da Penha, aliás Padroeira de São Paulo, e cuja imagem está na
Basílica, para que não haja alteração nos gabaritos da ZEPEC específica do
baiiro. E para que a Mitra Diocesana de São Miguel mude a sua posição de
intransigência. Por enquanto, as lideranças penhenses, favoráveis ao tombamento
aguardam ansiosos por uma decisão do Ministério Público Estadual que pediu ao
Conpresp vistas ao processo, encaminhado ao órgão em 1º de Março de 2016.
Os moradores do bairro, principalmente os mais idosos, não
se esquecem dos tempos em que no local funcionou o Seminário da Congregação dos
Padres Redentoristas, (1956 a 1966), a sede da então Administração Regional da
Prefeitura (1978 a 1981), e o Hospital-Ambulatório Nossa Senhora da Penha (1983
a 2006), cujo letreiro permanece no alto da fachada, e também pode ser
observado da rua.
O curador do Memorial Penha de França, Francisco Folco,
lembra que a construção foi erguida na década de 50, em terreno doado pela
comunidade, que também contribuiu com dinheiro, para servir de convento para os
padres da Congregação dos Redentoristas. Considerado de dimensões muito amplas
para aquela finalidade, foi transformado em Seminário pela Mitra Diocesana de
São Miguel Paulista, sua proprietária. Assim como da imponente Basílica de
Nossa Senhora da Penha, cujas torres e a fachada amarela são vistas de vários
pontos da região. É o mais importante centro religioso da Penha, praticamente
ao lado do prédio do antigo Seminário, desativado antes de abrigar o
Hospital-Ambulatório Nossa Senhora da Penha, que igualmente encerrou suas
atividades, no final da década de 90.
Fotos de Eduardo Morelli e
Douglas Nascimento
|
Os que visitam, assistem às missas ou passam diariamente
em frente à Basílica, constatam com tristeza e tentam entender como aquele
patrimônio se deteriora ano após ano. A única movimentação é na parte do espaço,
com acesso pela rua Santo Afonso, onde funciona o estacionamento para carros de
empresas de seguros, laboratório e cursos de idiomas. São cobrados de R$ 2,99 a R$
4,99, de acordo com a tabuleta fixada sobre o portão de ferro fechado por
corrente e cadeado. Em frente do portão tem um ponto de táxi coberto, com um
banco, e também ponto de ônibus.
Como sempre, o poder do dinheiro fala mais alto e atropela as conveniências e anseios dos cidadãos que serão afetados por mais essa construção.
ResponderExcluir