Turismo com prisão em Punta Carretas
Nem tudo foram flores em minhas
viagens pela América do Sul como enviado especial do Suplemento de Turismo
do jornal O Estado de São Paulo. Vivi um momento que só não se
transformou em tragédia porque meu Anjo da Guarda estava de plantão. O episódio
aconteceu em Montevidéu, capital do Uruguai, que no período de 1973 a
1985 estava sob ditadura militar.
O atual e moderno shopping
Punta Carretas, inaugurado na década de 90 e hoje um dos principais centros
comerciais e turísticos da cidade, era uma prisão, construída em 1910. Na
época, o prédio tinha quatro andares e 48 celas e par lá iam
presos comuns e políticos, como os Tupamaros, movimento de oposição à ditadura
e que promovia constantes atentados terroristas.
O ex-presidente José
Mujica, que era um dos líderes do movimento, foi detido e passou quase 14 anos
em uma das celas de Punta Carretas.
Em 1971, houve uma fuga em
massa do local, envolvendo 100 presos. A evasão foi por meio de um túnel de 44
metros e a ação, considerada uma das mais espetaculares, teve repercussão em
todo o mundo, sendo registrada no livro Guiness. A maioria dos que conseguiram
fugir era de Tupamaros e, entre eles, estava José Mujica.
Pouco tempo depois,
Mujica voltaria a ser preso e novamente fugiu, desta vez com outros 22
companheiros. E foi neste período delicado na vida política do país que este
jornalista desembarcou na capital uruguaia a convite do Ministério do Turismo
local .
O objetivo era fazer uma
reportagem mostrando os principais pontos turísticos de Montevidéu. Num carro
com motorista, cedido pelo Ministério, percorri numerosos locais, parando para
fotografar monumentos e prédios históricos da paisagem urbana, além da praia de
Pocitos, a mais procurada pelos turistas que visitam a cidade.
Neste trabalho já havia utilizado vários filmes e, quando passamos por um quarteirão formado por largas vias, observei um grande prédio, com uma atraente fachada, cercado por gradis e jardins floridos. O motorista diminuiu a marcha e eu, pela janela aberta, comecei a fotografar.
Neste trabalho já havia utilizado vários filmes e, quando passamos por um quarteirão formado por largas vias, observei um grande prédio, com uma atraente fachada, cercado por gradis e jardins floridos. O motorista diminuiu a marcha e eu, pela janela aberta, comecei a fotografar.
O detalhe é que o prédio era a
prisão de Punta Carretas e, para meu infortúnio, atrás do nosso
carro vinha um veículo e, no seu interior, uma autoridade da polícia
uruguaia. Ouvi apitos e ordens de pararmos. E o carro foi cercado por
guardas armados que apontaram até metralhadoras para o nosso veículo.
Aos gritos disseram que eu
estava fazendo fotos do carro do chefe de polícia, mandaram que descessemos
e nos levaram para uma sala na entrada da prisão. Depois de
certo tempo e alguns telefonemas, fomos colocados em um camburão, ladeados
por policiais, e conduzidos para uma delegacia ou algo
parecido para sermos interrogados.
foto : Luiz Antonio Novaes |
Mostrei a identidade e o passaporte,
expliquei minha condição de jornalista convidado pelo Ministério
do Turismo do Uruguai para divulgar o país no Brasil. O tempo todo tinha
duas preocupações: ficar preso e ver meus filmes retirados da câmera e velados,
destruindo todo o meu trabalho.
A autoridade checou minhas
informações junto ao Ministério do Turismo e, para meu alívio, devolveu a
câmera sem abri-la. Em seguida, pediu desculpas e justificou a nossa detenção
por estarmos fotografando o prédio da Punta Carretas, onde houvera
fugas recentes de lideranças do movimento Tupamaros.
Enfim, como diz o ditado, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Fui liberado com uma observação que até hoje me causa calafrios: "Vocês correram um risco sério, porque a gente está atirando primeiro e perguntando depois".
Enfim, como diz o ditado, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Fui liberado com uma observação que até hoje me causa calafrios: "Vocês correram um risco sério, porque a gente está atirando primeiro e perguntando depois".
À noite, ainda tive ânimo para
conhecer o lendário Estádio Centenário, palco de grandes conquistas da seleção
do Uruguai. Havia um amistoso programado, entre o time uruguaio e o Chile. Foi
uma partida fraca e nem me lembro do resultado. Na manhã seguinte, após uma boa
noite de sono, retornei ao Brasil. São e salvo.
Opa, que história boa e que sufoco, heinnnn!!??? Bjs, Rosana
ResponderExcluirvida de jornalista é assim. nem tudo são flores.
ExcluirOi amor, gostei de saber dessa aventura meio que bizarra, em detalhes que eu não sabia. Ainda bem que voltastes são e salvo. Experiências e aventuras, é o que não faltam ao longo de seu viver. Bj.
ResponderExcluirEscapei de boa. Bjs.
ExcluirVocê ainda teve ânimo, logo após essa viagem, para ir com sua esposa até Ituiutaba/MG e assistir ao casamento do seu irmão comigo, em 1°/11/1971.
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