quarta-feira, 28 de março de 2018



Tombado em 2013, Casarão em Pirituba, que foi da Marquesa de Santos,  está em ruínas e aguarda restauração

 
foto: Guia de Turismo


O acesso ao terreno e ao imóvel não é permitido pela incorporadora norte-americana Thisman Speyer,  atual proprietária da área desde 2007. Mas uma construção, de 1.500 m2, pode ser vista pelos milhares de motoristas que usam diariamente as duas pontes de acesso à Via Anhanguera, na marginal do Tietê. E não é difícil perceber que o imóvel, erguido no bairro de Pirituba, zona norte da capital, em 1920  e tombado em 2013 pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental), está em ruínas, enquanto aguarda restauração. O projeto já foi aprovado e prevê, além da preservação do prédio, e que será um Centro Cultural, a construção, no terreno de 180 mil m2, de um complexo residencial com 14 torres e um shopping-center.

De acordo com o Conpresp, o tombamento foi concluído na sua 561ª reunião ordinária, de 19 de março de 2013, após um processo que se arrastou por 24 anos,  iniciativa  do Movimento Cultural de Pirituba.  Na verdade, nada restou do antigo Casarão do Anastácio, que foi residência da Marquesa de Santos até sua morte em 1867. Adquirido em 1917 dos herdeiros da Marquesa e do seu marido, o Brigadeiro Tobias de Aguiar, pela antiga Companhia Armour do Brasil, em 1920 a construção recebeu a fachada atual em estilo chamado missões ou hispânico para ser sede do Club House do frigorífico como local de lazer e recreação para os funcionários desta empresa. Também já foi lugar de criação e treinamento de cavalos e esteve perto de ser incorporado a um parque municipal.
Foto: Guia  de Turismo


O Conpresp, um  órgão público, vinculado à Secretaria Municipal da Cultura, não sabe, entretanto, quando começarão as obras de restauração e muito menos as do empreendimento imobiliário. Nesta segunda-feira (26), este blogueiro manteve um contato  com a assessoria de imprensa da Thisman Speyer  para saber detalhes do projeto, prazos do início e fim das obras, e  o total do investimento previsto. A resposta não foi animadora para a população de Pirituba, que espera, a cada novo governo municipal, pela recuperação do Casarão e a instalação no imóvel do prometido Centro Cultural, espaço  que a comunidade nunca teve desde a criação do bairro...


A  Thisman Speyer confirmou que o projeto foi aprovado pelo Conpresp, está em fase de desenvolvimento pela incorporadora e que a restauração do Casarão e a construção das torres residenciais e do shopping serão realizadas simultaneamente.  Não revelou o prazo para o seu início, mas garante que tem feito ações para a proteção da propriedade, com um serviço de vigilância permanente para evitar invasão de vândalos e a degradação ainda maior do prédio.


Marquesa fez parte da história


De acordo com os registros históricos,.a origem do bairro de Pirituba e seu desenvolvimento estiveram ligados às várias fazendas existentes na região. E três se destacavam: Fazenda Pereira Barreto, do médico paulistano Luiz Pereira Barreto; Fazenda Tobias de Aguiar, do Brigadeiro Tobias de Aguiar (um dos homens mais ricos de São Paulo e marido de Domitília de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos), e Fazenda Jaguará, parcialmente conservada  pelo Parque Estadual do Jaguará. E havia apenas uma indústria no local, a  Cola Paulista, instalada em 1898.


O antigo e belo casarão, do século XIX, que foi sede da fazenda do Anastácio, não existe mais. Seu primeiro dono foi o Coronel Anastácio de Freitas Trancoso, influente membro do Governo Provisório de São Paulo, em 1823 e que se casou com a Marquesa de Santos, depois que esta deixou de ser amante de Dom Pedro II. Em maio de 1856, a fazenda foi comprada pelo Brigadeiro Tobias de Aguiar e sua mulher, a Marquesa de Santos, por 15 contos de réis. Eles haviam se casado em 1842, após de um relacionamento iniciado em 1833. Tiveram seis filhos.

Com a morte do Brigadeiro Tobias, em 1857, a Marquesa de Santos tornou-se a única proprietária. E manteve as terras até morrer, em 1867, aos 70 anos. Após seu falecimento, a posse da fazenda ficou com os herdeiros, que, em 1913, venderam uma parte para a Companhia Elétrica Light and Power que, em 1935, dividiu a área em alguns lotes que formaram a Vila Comercial..


Em 1917, a outra parte da fazenda foi comprada pela Companhia  Armour do Brasil, por R$ 70 milhões. A implantação  da indústria, no prédio que tem 1.500 m2, demorou três anos e foi usado para hospedar os funcionários.  Foin assim que surgiu o primeiro loteamento do bairro de Pirituba, a Vila Cachoeira, localizada onde hoje se encontram trechos das ruas Ribeirão Vermelho, Alberto da Veiga, Maria Lúcia Duarte e Brigadeiro Godinho do Santos.


Depois da aquisição completa da propriedade, o antigo casarão, onde a Marquesa de Santos passou parte de sua velhice, foi demolido, segundo o registro dos historiadores. Da fazenda, formaram-se os bairros de Parque São Domingos, City América e Vila Fiat Lux.