terça-feira, 9 de maio de 2017

A cidade não esquece do Guarda Luizinho

Ele foi escolhido “O policial do ano”, pela imprensa, em 1975, 76, 77, 79 e 1980; recebeu o “Apito de Ouro” em 1976, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo; o título de Cidadão Paulistano e a Medalha de Anchieta, da Câmara Municipal; foi homenageado  pela Associação Comercial de São Paulo, distrital de Santana, com o Cartão de Prata; eleito a Personalidade do Ano em 1978 e 1979, pelo Rotary Club, na área de atividades humanas, e pela Academia Brasileira de Poesia, como “Um Anjo da Guarda, em 1978; teve sua imagem ilustrando um calendário da SPTrans em uma campanha de educação de trânisto
foto acervo/ Estadão 
 em 2015 e, no último dia 27 de abril, foi homenageado pelo Comando de Policiamento de Trânsito, em evento no Teatro Sérgio Cardoso.


Os que, como eu, tinham menos de 40 anos no período de 1970 a 1980, e viviam em São Paulo, já sabem de quem estou falando. Do Guarda Luizinho, que marcou época com seu estilo inimitável e um grande senso de humor, no seu trabalho de cuidar da segurança dos milhões de pedestres que diariamente passavam por aquele que foi e continua sendo um dos locais mais problemáticos do trânsito na capital: o cruzamento das ruas Xavier de Toledo e Barão de Itapetininga, bem em frente à Praça Ramos de Azevedo e do Teatro Municipal, e ao lado do prédio do antigo Mappin.

No seu ponto, onde permanecia a partir do meio-dia e ia, às vezes, além das 20h30, jamais aplicou uma multa. Orgulha-se também de nunca ter havido um atropelamento naquele cruzamento, enquanto trabalhou no local. Era cumprimentado e aplaudido mesmo após chamar a atenção dos pedestres, principalmente jovens e moças, sempre apressados, e até pessoas de idade, que insistiam em descer da calçada e atravessar antes do sinal fechar para os veiculo. No final da tarde, chegava a receber flores de senhoras e até bombons em agradecimento pela forma como fazia o seu trabalho, sem criar atritos, e tendo como lema a prevenção, orientação e a educação. 
foto acervo/Estadão

Os ‘boys” que trabalhavam na região, gostavam de, na hora do almoço, ficar observando as atitudes criativas e irreverentes do Guarda Luizinho. E se divertiam muito quando ele fazia um pedestre retornar à calçada e lhe entregava uma miniatura de caixão, feita de plástico. E dizia:“Este caixão é para você, que gosta de ficar pulando entre os carros. É de graça”.

Outra atitude bastante aplaudida pelos que aguardavam o sinal abrir, era quando um motorista de taxi parava em cima da faixa. Luizinho abria a porta do carro e mandava os pedestres atravessarem para o outro lado da rua passando pelo interior do veículo. Como circulava muito por aquela área central da cidade, testemunhei esta cena um sem número de vezes.

Também chegava quase a carregar e dava as mãos a alguns que teimavam em atravessar fora da faixa. Em uma de suas atitudes mais inusitadas, ficava de joelho diante do pedestre para fazer com que ele esperasse a abertura do sinal.

Ele sempre foi muito além do seu trabalho de fazer cumprir as leis do trânsito, ajudando os mais idosos a atravessar e sempre dando informações sobre como chegar a este ou aquele destino. A mídia destacou, na época, um gesto que fez crescer ainda mais a admiração pelo Guarda Luizinho. Ao saber que uma jovem perdeu o emprego porque se atrasou por estar no cruzamento observando o seu trabalho, Luizinho foi até a empresa e convenceu o chefe a readmiti-la.

Para se ter uma idéia de como ele era querido pela população, em determinada ocasião foi transferido para atuar na esquina da Avenida Ipiranga com a São João, seguindo um esquema de rodízio estabelecido pelo DSV. Houve um abaixo-assinado com cerca de 65 mil assinaturas pedindo a volta do guarda para o ponto anterior e a solicitação foi atendida algum tempo depois.

foto acervo/ Estadão
O paraibano Luiz Gonzaga Leite, hoje com 76 anos, ingressou na Guarda Civil em 1965, depois de ter servido o Exército no CPOR – Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, em 1958. A unificação da Guarda  com a então Força Pública, em abril de 1970, fez dele um Policial Militar, onde prestou serviço no Departamento do Sistema Viário (DSV) hoje Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) até se aposentar em 1982.
Atualmente, Luizinho mora no bairro do Tucuruvi, na Zona Norte, e tem um restaurante na rua 7 de Abril, no quarteirão entre a Xavier de Toledo e a Conselheiro Crispiniano. Quem cuida do estabelecimento é sua filha Alessandra, assistente social e advogada. Seu outro filho, Paulo, é engenheiro civil.

 Mesmo tendo se aposentado, ele continua sendo muito popular em toda a cidade. Recebe cartas e pelo facebook está em contato diário com milhares de pessoas, incluindo gente a quem nunca foi apresentado, que manifestam a sua admiração e recordam com saudades do seu trabalho em frente ao antigo Mappin. Ele continua ligado aos problemas do trânsito e, vez por outra, é convidado para fazer palestras em escolas, empresas, entidades e associações comunitárias de bairros sobre o tema que o tornou conhecido em todo o país e além de nossas fronteiras: educação no trânsito.


Recuperado de uma recente cirurgia, reassumiu suas funções no Conselho Tutelar do Tucuruvi, da Prefeitura de São Paulo, cargo para o qual foi eleito pela maioria de votos. Antes disso, como voluntário, foi Comissário de Menores na Vara da Infância e Juventude, de 1986 a 2000; delegado do Conselho Municipal de Trânsito, de 2002 a 2003, eleito pela população de Vila Mariana, e Conselheiro Municipal de Trânsito e Transporte, de 2004 a 2005. 

4 comentários:

  1. Ô meu amor. Esse foi o post mais emocionante de todos. Que figura encantadora, uma pena que nunca o vi trabalhando, pois eu também ia perder o emprego. Jamais existirá outro Luizinho e é realmente digno de toda nossa admiração. Bj.

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  2. Boa noitr amor. Realmente, eu que fui testemunha do trabalho dele, acredito que igual a ele não tem mais ninguém. obrigado pela força de sempre. Bjs.

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  3. Acabei de conhecer essa figura simpática de SP. É muito bom divulgar ações e gestos de pessoas que fazem a diferença na vida de uma cidade como São Paulo. Parabéns por mais esta matéria tão rica em calor humano.

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  4. Acabei de conhecer essa figura simpática de SP. É muito bom divulgar ações e gestos de pessoas que fazem a diferença na vida de uma cidade como São Paulo. Parabéns por mais esta matéria tão rica em calor humano.

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