quinta-feira, 29 de junho de 2017

Restaurado, velho prédio dos Correios é novo polo cultural de São Paulo

Na década de 60, quantas vezes, ao passar pelo centro da cidade, não fui até o velho prédio do Palácio dos Correios para postar uma correspondência, redigir e enviar telegramas, retirar ou mandar encomendas para os familiares que moravam em Minas Gerais. Não raro, enfrentava grandes filas, tal era a demanda de pessoas que utilizavam, com a mesma finalidade, a Agência Central na Praça Alfredo Lessa, mais conhecida como Praça dos Correios, com entrada principal pela Av.Prestes Mais, esquina com a Av. São João.

foto: divulgação
O edifício, no centro histórico da capital, chama atenção por sua arquitetura representativa do início do século XX, com características ecléticas e linhas neoclássicas e influências renascentistas. 

Durante décadas foi a sede da Diretoria Regional dos Correios. Sua inauguração ocorreu em 20 de outubro de 1922,  pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, dentro do programa de comemorações do Centenário da Independência. A construção foi iniciada em 7 de outubro de 1920, seguindo projeto do escritório técnico de Ramos de Azevedo. O lançamento da pedra fundamental teve a presença de personalidades ilustres, como o rei Alberto I, da Bélgica.

foto: divulgação
A construção fez parte de um amplo processo de modernização do centro da cidade de São Paulo, num período em que surgiram edifícios, entre os quais  o Teatro Municipal, e obras viárias incluindo  o Viaduto do Chá. O prédio dos Correios destacou-se na paisagem do Vale do Anhangabaú, numa fase de transformação por que passava a cidade e sua localização na área central foi definida pela proximidade com as vias férreas e a oferta de transporte urbano rápido da época (bondes).

foto: divulgação
Depois de várias reformas internas no período de 1950 a 1978, ainda na década de 70 as suas atividades administrativas foram transferidas para um endereço na Vila Leopoldina, na Zona Oeste da capital e na sede original ficaram apenas os serviços gerais de postagem. Em 2005 houve a última e maior obra de restauração, incluindo a fachada, que se destaca á  noite com sua iluminação por lâmpadas de LED. 

A partir de 30 de janeiro de 2008, os Correios reinauguraram as novas instalações da Agência Central de São Paulo, que é a maior dlo país, com 4.838 m2, tem 42 guichês de atendimento e 150 funcionários.

O prédio é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo
e  pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. Ocupa uma área construída de 15 mil m2 distribuídos em cinco pavimentos. A Agência Central de São Paulo fica no térreo e no mezanino estão a Agência Filatélica D. Pedro II e um espaço para exposições. No saguão funciona uma unidade do Banco Postal.

Desde julho de 2013 o imponente e revitalizado prédio transformou-se num novo e atraente polo cultural e turístico da capital com a inauguração do Centro Cultural Correios São Paulo, nos andares superiores. Em sua área de 1.280 metros quadrados, nas duas salas de exposições e no saguão, são apresentadas atividades regulares e gratuitas, nos campos das artes visuais, humanidades e de música, sempre de terça-feira a domingo.
foto divulgação

A primeira mostra foi “Poteiro por Inteiro”, retrospectiva inédita da obra de Antonio Poteiro, um dos mais conhecidos nomes da arte popular brasileira, que se estendeu até o dia 4 de setembro. A última exposição, encerrada no dia 25 deste mês, “Experiência Munduruku”, contou a história do povo que vive na região amazônica há gerações, em harmonia com o rio e toda a rede de vida que o Tapajós proporciona, e sua luta para impedir a instalação de hidrelétricas e pela proteção de suas terras. Aguardamos a próxima exposição.        

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quinta-feira, 22 de junho de 2017

Monte Verde aquece o inverno com festival de música, arte e belas paisagens

No longínquo 1913, o mundo estava a beira da 1ª Guerra Mundial, deflagrada um ano depois.  Mas o  fluxo de imigrantes que deixavam a Europa em busca de melhores condições de vida em  países da América do Sul, incluindo o Brasil, era crescente. Exatamente naquele ano, uma leva de famílias de imigrantes procedentes da Letônia chegou ao País. Entre elas, a de Verner Grinberg, que ainda era menino . Eles se estabeleceram em Paraguaçú Paulista, numa colônia de letões.

Em 1938, Verner casou-se com Emília Leismeir e foram passar a lua de mel em Campos do Jordão. Foi quando ouviu referências sobre a localidade dos Campos do Jaguar,  e ali se instalou por causa do clima e paisagem parecidos com os de sua terra natal. Mas não foi nada fácil o acesso á região, no pé da Serra da Mantiqueira. Precisou até montar em lombo de burro, abrindo picadas no meio da mata.

Com muita luta e persistência, o imigrante adquiriu glebas de terras e deu início à formação de uma fazenda.  Aos poucos, muitos de seus amigos e conhecidos foram chegando, atraídos pela beleza da região. Para os amigos e parentes, geralmente europeus e seguidores de sua religião, a batista, doava lotes para que construíssem casas e viessem morar na sua propriedade.  Assim surgiu a Vila  de Monte Verde, cujo  fundador  faleceu em agosto de 2006, aos 97 anos.

foto: Divulgação
A Vila, que hoje tem 5 mil habitantes fixos, pertence ao município de Camanducaia, no extremo sul de Minas Gerais e se desenvolveu pelo trabalho de seus pioneiros e descendentes.  Nos últimos 10 anos, o bom acesso rodoviário desde São Paulo, Rio, Belo Horizonte e outros centros geradores de turistas, e a ampliação e melhoria da qualidade da rede hoteleira e de sua diversificada gastronomia, fizeram da pequena e aconchegante Monte Verde um dos destinos  mais procurados no Estado e no País.

foto: Divulgação
Com uma altitude de 1.600 metros, que lembra muito Campos do Jordão, a beleza de suas paisagens, o forte apelo do seu clima  europeu, a arquitetura alpina  e a hospitalidade mineira, Monte Verde tem potencial mais do que suficiente para atrair, no ano inteiro e, principalmente  em julho, milhares de  turistas de várias partes do Brasil e do Exterior . Para curtir o Festival são esperados cerca de 90 mil visitantes.

Este ano, o evento, em sua quinta edição, terá sua programação de shows, concertos, apresentações de rua  e oficinas culturais no período de 01 a 29 de julho. O Festival traz um novo formato, com espaços descentralizados, levando atividades para diversos ambientes que incluem a Pedra Redonda e a Avenida Monte Verde, além das várias galerias. Uma atração especial será o cantor e compositor Nando Reis, que se apresentará na segunda semana, no dia 8. A abertura terá a presença dos artistas da Letônia, Matiss Uskans e Ilze Farte, e o encerramento ficará por conta da Orquestra Melhoramentos Caieiras.
  
A promoção do Festival é da Prefeitura de Camanducaia,  com o apoio da Cia Melhoramentos, do Conselho Municipal de Turismo de Camanducaia, Associação Comercial de Monte Verde), Associação de Hotéis e Pousadas de Monte Verde, Comissão Comunitária de Eventos e Monte Verde FM. As atrações são gratuitas, com exceção do show do Nando Reis que é uma iniciativa privada dentro do Festival.

De acordo com  a  Associação de Hotéis e Pousadas , há 170 hotéis e pousadas, além de  chalés, com capacidade para atender até 5 mil visitantes. Mas, a exemplo do que acontece nos feriados prolongados e no período de férias,  para quem quer assistir ao Festival de Inverno é recomendável fazer a reserva com  boa antecedência.  A rede  tem estabelecimentos confortáveis e serviços de qualidade, como o Meissner Hof,  Pousada Mirante da Colyna,  Pousada dos Pássaros, Pousada das Nuvens , Pousada Ricanto Amore Mio, Pousada Varanda das Colinas, Fazenda Hotel Itapuá, e Alas de La Sierra Pousada, entre outros, cujas diárias nesta época variam de R$180 a R$ 880.  Todos podem ser acessados pelos seus sites.
Programação
foto: Divulgação
foto: Divulgação
foto: Divulgação
  
A programação do Festival de Inverno, divulgada pela Secretaria de Turismo de Camanducaia, inclui 28 eventos, com as atrações distribuídas por cinco sábados. Veja a relação abaixo.

01/07
20h - Abertura com a dupla Matisse Uskans e Lize Farte da Letônia
Local: Tenda Cultural
21h- Sapecada do Pinhão
Local: Avenida Monte Verde

08/07
13h - Intervenção cênica “Do chão não passa”
Local: Tenda Cultural
14h - Apresentação grupo de Dança ABMV
Local: Galeria Suíça
15h – Apresentação Congada de São Benedito
Local: Avenida Monte Verde
16h – ‘Rir é o Melhor Remédio
Local: Tenda Cultural
20h - Apresentação Grupo Mountain Song
Local: Tenda Cultural
22h – Nando Reis
Local: Lago Central

15/07
11 h – Apresentação Chico Ceará
Local: Pedra Redonda  
13h –‘Carimbos e Xilogravuras’ com Andrea Avelar
Local: Tenda Cultural
14h - Apresentação grupo de Dança Monte Verde ABMV
14h30 - Apresentação Alegro Music
Local: Galeria Suíça
15h – Apresentação Banda Marcial Irmão Paulo de Campanha
Local: Avenida Monte Verde
16h - Apresentação Chico Ceará
Local: Galeria da cidade
16h – ‘Isolda e o mistério do baú de histórias’
Local: Tenda Cultural
20h - Apresentação do Thiago Delegado
Local: Tenda Cultural

22/07
11 h – Apresentação Márcio Mineiro
Local: Pedra Redonda
13h – Intervenção ‘Mandiocas da Roça’ com Heyttor Barsalini
Local: Tenda Cultural
15h – Gaita de Foles Brasil Caledonia
Local: Avenida Monte Verde
16h - Apresentação Márcio Mineiro
Local: Galeria das Flores
16h - Apresentação  – ‘Nhô Minino’
Local: Tenda Cultural
20h - Apresentação Francis Rosa
Local: Tenda Cultural

29/07
11 h – Apresentação Duo Elton e Paula Oliveira
Local: Pedra Redonda 
13h – Apresentação do Espetáculo ‘Mad Science’
Local: Tenda Cultural
14h - Apresentação Duo Elton e Paula Oliveira
Local: Galeria Suíça
15h - Apresentação Orquestra Melhoramentos Caieiras
Local: Galeria Suíça
16h – Apresentação do Espetáculo ‘Mad Science’
Local: Tenda Cultural
20h – Apresentação do grupo Harmony Vox
Local: Tenda Cultural

O acesso a Monte Verde, desde São Paulo,  distante 164 quilômetros, é pela Rodovia Fernão Dias (BR-381), passando por Atibaia, Bragança Paulista, Extrema, na divisa com Minas, Itapeva, até chegar ao município de Camanducaia. Desta cidade é só seguir as placas indicativas e pegar a estrada de 30 quilômetros até o Portal Turístico de entrada da Vila. Apesar de asfaltada, a estrada tem pista única e um sem número de curvas. Mas a beleza da paisagem compensa plenamente.



sexta-feira, 16 de junho de 2017

Parque Dom Pedro II: revitalização é miragem, degradação uma dura realidade

Desde que cheguei a São Paulo, há 56 anos, e na minha condição de jornalista que atuou por 40 anos na Assessoria de Imprensa da Prefeitura, testemunhei o anúncio de ambiciosos planos e/ou projetos urbanísticos, batizados com diferentes nomes, para a revitalização do tradicional Parque Dom Pedro II, distante menos de um quilômetro da Praça da Sé. Infelizmente, prefeito após prefeito, nenhum foi concretizado.

Foto: Divulgação
Um deles, apresentado à mídia na gestão de Gilberto Kassab, foi elaborado pela Fundação para a Pesquisa Ambiental, ligada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Com um custo estimado em R$ 1,5 bilhão, teve um tímido avanço: a implosão dos edifícios São Vito e Mercúrio, que várias administrações anteriores tentavam, sem sucesso, há anos, riscar da paisagem paulistana.

O imenso vazio, que surgiu perto do Mercado Municipal, por algum tempo serviu de estacionamento público para clientes do Mercadão, depois da retirada dos escombros que sobraram dos dois prédios. Até que o terreno municipal foi cedido pelo prefeito Fernando Haddad, em 2013, por meio de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal, com validade por 99 anos, para o SESC construir no local mais uma de suas unidades, nos moldes das 39 existentes em diferentes bairros da Capital.

A medida, dizia-se na ocasião, abriria espaço para a revitalização do Parque Dom Pedro II, prometida há mais de dez anos durante as gestões de Marta Suplicy, José Serra e Gilberto Kassab, Na última proposta apresentada, a remodelação daria à região novos pontilhões, espelhos d’agua e até um parque linear. A lei sancionada por Haddad concedeu um prazo de 12 meses ao SESC para apresentar à Prefeitura um projeto de ocupação da área onde os dois edifícios foram demolidos. 

Enquanto o SESC Parque Dom Pedro II não é erguido, o espaço já oferece atividades culturais, de lazer e esportivas à população em todos os fins de semana.

Foto autor desconhecido
Até que se materialize a revitalização da região, que foi a antiga Várzea do Carmo, e seu entorno, a população que diariamente faz uso desta ligação entre o centro histórico de São Paulo e a Zona Leste, não acredita que um dia verá a transformação do atual Parque Dom Pedro II – um mar de carros, ônibus e viadutos, exemplo de degradação urbana ao longo de décadas -  sujo e perigoso, em um atraente parque público dominado pelo verde.   

O último plano, engavetado principalmente pelo seu custo astronômico, começaria no primeiro semestre de 2012. De acordo com o que foi anunciado na época pelo secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, o projeto estava dividido em quatro fases. A primeira terminaria em 2013, com a construção de um pontilhão sobre o rio Tamanduateí, para permitir a demolição do Viaduto Diário Popular. O pontilhão possibilitaria o acesso da área central ao atual terminal de ônibus.

Perto do terminal haveria um centro de compras para dar mais dinamismo ao eixo comercial da Rua 25 de Março e combater o comércio ilegal, conforme destacado pelo então prefeito Gilberto Kassab. Outra intervenção do projeto: a construção de um estacionamento público, com 2.600 vagas, ao lado do Mercadão. E ainda dentro da primeira etapa do plano, no local da demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio, o SESC implantaria uma unidade para atender 15 mil pessoas, segundo disse o empresário Abram Szajman, que era o presidente da entidade.

A segunda fase do projeto, que tinha previsão para ocorrer entre 2011 e 2014, falava na construção de dois túneis em cada um dos lados do rio Tamanduateí, para ajudar na transposição leste/oeste. E, na terceira, no período de 2013 e 2015, seria feita a demolição dos viadutos 25 de Março e Antônio Nakashima para a restauração do sistema viário da região

Finalmente, em sua última etapa . a revitalização urbana estabelecia para o período de 2014 a 2016 que o Terminal Urbano Parque Dom Pedro II e o Terminal Expresso Tiradentes seriam instalados ao lado da estação Dom Pedro do metrô, permitindo a construção de um novo terminal intermodal. E também fazendo parte desta fase, seriam implantadas lagoas de retenção na área do terminal com função paisagística e de sistema de drenagem. Depois de tudo anunciado, ficou faltando só o mais importante: a abertura da licitação para saber quem executaria todas as obras do ambicioso projeto.

Mas, a administração de Fernando Haddad, encerrada em 2016, optou por um plano mais “pé no chão”, com medidas econômicas e sociais e não apenas urbanísticas na região, levando em conta que a área estava tomada por moradores de rua e usuários de drogas. O prefeito tentou desenvolver na região um projeto semelhante ao do programa Braços Abertos, pelo qual usuários de crack são convidados a trabalhar e morar em imóveis e hotéis pagos pelo Município  O modelo foi implementado inicialmente na Cracolândia, mas não chegou ao Parque Dom Pedro II.

Foto autor desconhecido
 Projetado pelo francês Joseph-Antoine Bouvard (1840-1920), o Parque  foi entregue em 1922, dentro das comemorações do Centenário da Independência, como a principal área de lazer da cidade. Nela funcionou um grande parque de diversões, chamado Shangai, havia um lago com uma fonte e até a Ilha dos Amores, tudo registrado nos arquivos da época. Mas o “progresso” trouxe mudanças substanciais, como a chegada dos viadutos a partir da década de 1960, que hoje são cinco, e a abertura da Avenida do Estado, descaracterizando gradativamente a região.

Foto :Terminal de Ônibus - wikipédia
O Parque perdeu cerca de metade da área verde que possuía quando de sua inauguração. Posteriormente, veio a construção da Estação do Metrô e do Terminal de Ônibus, que se tornou o mais movimentado da Capital. A decadência da região e seu entorno se acentuou e atualmente ali se verifica umas maiores concentrações de vendedores ambulantes e de moradores de rua de São Paulo. A violência também cresceu, e o trânsito de pessoas pelas áreas arborizadas e embaixo dos viadutos é pouco seguro, principalmente a passagem de pedestres que separa o Parque do antigo Palácio das Indústrias, hoje Museu Catavento, e que foi apelidada de “Faixa de Gaza”.   

Foto wikipédia
 E assim, a revitalização do Parque Dom Pedro II continua sendo apenas uma miragem, e a constante degradação da região, uma dura realidade. Disso são testemunhas diárias os quase 3 mil alunos e professores da Escola Estadual São Paulo, talvez o mais antigo estabelecimento de ensino público da Capital, fundado em 1894, o primeiro a ter ensino secundário, e que funciona no local desde 1958.

Todos convivem com a insegurança, e não raro são vitimas de assaltos, principalmente à noite. Como eu que, na gestão do prefeito Celso Pitta, fui abordado por dois pivetes quando deixava o Palácio das Indústrias em direção ao metrô, e após passar  pelas proximidades da escola. Foi-se um relógio, mas, felizmente, ficaram os dedos.







quinta-feira, 8 de junho de 2017

Arte e abandono nas poucas passagens subterrâneas para pedestres em São Paulo

A grande incidência de acidentes de trânsito, a maioria com o atropelamentos fatais, devido ao acelerado desenvolvimento urbano e o aumento do volume do tráfego de veículos, fez surgir as passagens subterrâneas para pedestres, no final da década de 30, na paisagem urbana de São Paulo. As ocorrências envolviam ônibus, carros e, principalmente, bondes, e eram frequentes nos cruzamentos das avenidas mais movimentadas da Capital.

A primeira intervenção foi em 1938, ligando os dois lados da Av.Rangel Pestana, no trecho entre a rua Piratininga e o Largo da Concórdia. O ponto foi escolhido para dar maior segurança à travessia dos alunos do Grupo Escolar Romão Puiggari, que ficava do outro lado da avenida.

A passagem ficou pronta em setembro daquele ano e tinha ladrilhos brancos nas paredes. Um zelador mantinha o local em boas condições durante o dia. A população fazia uso constante e houve uma queda do número de acidentes na avenida,

Com o passar do tempo, entretanto, a zeladoria foi removida, a passagem passou a ser usada como banheiro público deixando um forte cheiro de urina e de creolina após a limpeza diária. Os problemas aumentaram com a ocorrência de assaltos, tornando o local inseguro e afugentando os pedestres que preferiam atravessar a Rangel Pestana pela superfície. Abandonada, a passagem foi desativada e fechada pela Prefeitura nos anos 60 e assim permanece até hoje.
passagem Mappin

Outra passagem subterrânea importante para a mobilidade urbana fica na região central e, infelizmente, também foi desativada há um bom tempo

Como milhares de paulistanos, eu também a utilizava bastante para ir  da rua Barão de Itapetininga ao Viaduto do Chá, e vice- versa, ou acessar a Xavier de Toledo, em frente do antigo Mappin, hoje Casas Bahia, do Teatro Municipal e do prédio da Ligth, atualmente um shopping do mesmo nome.

Aliás, foi ali que atuou, por muitos anos, o famoso guarda Luisinho, que fazia os motoristas abrirem as portas dos seus veículos para as pessoas passarem por dentro quando os carros paravam sobre a faixa dos pedestres.

A passagem subterrânea do Mappin, como era conhecida, dava mais segurança a todos que diariamente circulam por um dos pontos de maior movimento de trânsito da Capital. Uma região com alto índice de atropelamento.

passagem Prestes Maia
Em 2005, foi  divulgado pela mídia um acordo entre a então Subprefeitura da Sé, hoje Prefeitura Regional, as Casas Bahia e o Shopping Light para a reabertura da passagem subterrânea. O plano previa a recuperação dos pisos, escadas, portões, melhoria da iluminação interna e instalação de câmeras de vigilância, que seriam monitoradas pela Central de Segurança do Shopping Light. .  

A atual administração do shopping desconhece a existência do acordo, que , ao que tudo indica, ficou apenas na intenção. Nesta quarta-feira (7), passando pelo local , à tarde, vi um caminhão de empresa de limpeza, que atende a prefeitura Regional da Sé, usando mangueiras e lavando a passagem com jatos de água em toda a sua extensão. Segundo o motorista do veículo, há 5 anos este serviço é feito três vezes por semana. Mas a passagem segue fechada. 

Outra passagem, bastante mais problemática, está localizada no bairro da Lapa, na Zona Oeste. E é conhecida por nome nada poético, Toca Da Onça. Liga as ruas William Speers e John Harrison.

Dois fatores fazem com que os moradores da região evitem usar a passagem: a falta de segurança e os constantes alagamentos no local. O último deles, de acordo com o registro na imprensa, ocorreu no dia 5 de junho de 2016, logo após passar por reforma.

Pelo que foi divulgado, a Prefeitura Regional da Lapa teria gasto R$ 150 mil na obra, mas não resolveu o problema, pois voltou a ser inundada depois de uma forte chuva na região. Para piorar, a passagem é alvo constante de vandalismo, como a pichação das paredes e a destruição de 7 das 17 lâmpadas.

praça do Patriarca
 Acionada, a Regional da Lapa, por meio da Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais, informou que  “a passagem está funcionando normalmente e que passa por limpeza periódica”. Resta à população da região conferir e fiscalizar.

Mas para não dizer que não falei de flores, o paulistano conta com pelo menos duas passagens subterrâneas das quais pode usufruir diariamente com segurança, para a sua mobilidade.

A mais importante da Capital sempre foi a da Galeria Prestes Maia, construída em 1940, aproveitando os espaços vazios da parte final da estrutura do Viaduto do Chá. Na época, tinha abrigos para passageiros de ônibus, salões de exposições, garagem e sanitários públicos. A passagem leva o nome do prefeito de quando foi inaugurada, Francisco Prestes Maia e liga a Praça do Patriarca ao Vale do Anhangabaú.

passagem Prestes Maia
Muito utilizada pela população, com um largo e extenso corredor, têm escadas rolantes, instaladas em 1955, as primeiras inauguradas na cidade, acabamento luxuoso no subsolo, térreo e mezanino. Neste, fica o Salão Almeida  Júnior, com área de 6 mil m2, no momento vazio e fechado ao público, mas que de vez em quando recebe exposições específicas e temáticas.

Como consolo, aos turistas que passam pela Galeria, e interessados em arte, ela exibe permanentemente as esculturas Graça I e Graça II, de Victor Brecheret, outra de Moisés, cópia feita pelo Liceu de Artes e Ofício, e um busto de Almeida Júnior.

 A Galeria conta hoje com uma Praça de Atendimento para os servidores, munícipes e pensionistas da Prefeitura, que reúne os serviços prestados pelo Instituto de Previdência Municipal (Iprem). Há também uma base da Guarda Metropolitana e um posto da Ouvidoria Geral do Município.

Quando era prefeita, Marta Suplicy fez uma tentativa de instalar na Galeria um Museu da Moda, ideia que não vingou. O Museu de Arte de São Paulo (Masp) chegou a desenvolver atividades no local, mas só restou uma placa de 28 de novembro de 2000 afixada numa parede.
   
Na principal avenida da cidade e seu mais famoso cartão postal, a Paulista, funciona desde a década de 70 a passagem subterrânea atualmente conhecida por Passagem Literária. Está situada no final da avenida e é conectada com a rua da Consolação.

Inicialmente era só usada como passagem pelos pedestres que precisavam chegar a rua da Consolação pela Av. Paulista sem perder tempo na superfície esperando a abertura do semáforo. Mas era arriscado e perigoso, principalmente á noite. O espaço não oferecia segurança, exalava mau cheiro, suas paredes eram sujas e pichadas e moradores de rua dormiam no local.

A partir de 1989, a passagem foi revitalizada pela então Subprefeitura da Sé, que  consertou os vazamentos, melhorou a iluminação e pintou as paredes. E, desde 2005, por meio de um acordo, segundo se divulgou, é utilizado pela Associação de Livreiros denominada Via Libris para ser um corredor cultural.

A entidade surgiu de um movimento social, organizado pelos livreiros que tradicionalmente vendiam seus livros usados nas calçadas da rua Augustas. O intuito era transformar um espaço público vazio num local para a  exposição e venda de fotos, quadros de artistas plásticos, livros raros e antigos, discos e partituras, a preços acessíveis. Alem de cumprir uma programação artística com apresentações de conjuntos e/ou músicos solos.

Apesar de realmente funcionar como uma livraria, o espaço tem problemas, como uma linha de degraus onde costuma tropeçar quem está consultando e/ou comprando os livros e não percebe o desnível. Na quarta-feira (7) havia apenas um livreiro atendendo no local e lamentava que a maioria dos milhares de paulistanos e turistas apenas passa pelo espaço. E talvez pela falta de interessados, ainda não foi adiante uma iniciativa de fazer projeções de filmes nas paredes internas da passagem.

passagem  Consolação
A bem da verdade, é bom que se diga que, de um modo geral, o aspecto interno atual não é dos mais organizados e atraentes. Mais se parece com um dos muitos sebos existentes pela cidade, e reúne um sem número de livros espalhados em mesas/prateleiras, bem no meio da passagem.


Mas isso não incomoda, por exemplo, um publico fiel: os grupos de estudantes que fazem visitas guiadas à Passagem Literária, para suas pesquisas e trabalhos. E olham curiosos para as paredes totalmente escondidas pela grafitagem e milhares de cartazes de filmes, fotos e programas. Numa delas está pintado em tinta preta: “Não somos o metrô, mas a gente leva você para um respiro de arte e cultura”. Que continue assim.




quinta-feira, 1 de junho de 2017

Palacete Rosa no Ipiranga acolheu filhas de refugiados  russos
fonte: Jô Ferreira

fonte : Jô Ferreira
Conhecido como Palacete Rosa, construído em 1927 como residência do casal Munira e David Jafet,  da família libanesa que emigrou para o Brasil no fim do século XIX, o casarão da rua Bom Pastor, de número 801, chama atenção e impressiona a quantos passam diariamente por aquela via, na esquina com a rua dos Patriotas, no histórico bairro do Ipiranga. Mas o que talvez poucos sabem é que, no palacete de estilo mourisco, tombado e atualmente residência particular, funcionou, a partir dos anos 50 e por várias décadas, o Instituto Santa Olga, um internato de freiras para acolher filhas de imigrantes russos. Eles eram refugiados da II Guerra Mundial e chegavam ao país pelo porto de Santos.

fonte: Jô Ferreira
 O estabelecimento foi dirigido e mantido por muitos anos pelas religiosas da Companhia de Santa Úrsula ou Ordem das Irmãs Ursulinas da União Romana, como era conhecida oficialmente a instituição fundada por Santa Ângela de Merici, em 1535. A religiosa é uma das mais conhecidas santas da Idade Média, canonizada pelo papa Pio VII em 1807.
A presença da Ordem no Brasil foi iniciada na Bahia, por uma jovem de nome Úrsula Luiza de Montserrat, cujo nome deu origem ao trabalho da Companhia de Santa Úrsula no país. Com o objetivo de educar meninas e moças, e inspirada nas irmãs Ursulinas, ela fundou um convento, de Nossa Senhora das Mercês, em 1735, que é a casa mais antiga da Província no Brasil. Em 1739, o Pe. Gabriel Malagrida criou um outro núcleo de Ursulinas, fundando o Convento de Nossa Senhora da Soledade, também em Salvador.
Fonte: Jô Ferreira
Mas foi só em 1895 que chegaram as primeiras irmãs Ursulinas, procedentes da França, iniciando a partir daí a expansão da Ordem para outras regiões do Brasil, com a criação de diversos institutos. Um deles, o de São Vladimir, na década de 50, internato só para meninos que funcionou inicialmente em uma casa em São Paulo, depois foi transferido para Itu, Santos (Mosteiro de São Bento) e, finalmente em São Paulo, no bairro do Ipiranga.


Fonte: Jô Ferreira
O instituto acolhia e integrava crianças russas cujas famílias desembarcaram no porto como refugiadas da II Guerra Mundial e procedentes da Europa e da China. O trabalho deixou marcas importantes na vida das pessoas que o frequentaram. E até hoje os ex-internos continuam participando de eventos russos na cidade de São Paulo, em total inter-relação com os hábitos brasileiros.

O mesmo projeto foi desenvolvido no Instituto Santa Olga, também no bairro do Ipiranga, mas com um internato voltado exclusivamente para meninas, a partir de 1958. Neste ano, as Irmãs Ursulinas, estabelecidas com uma casa em Resende (RJ), se mudaram definitivamente para São Paulo. O Instituto adquiriu o Palacete Rosa da família Jaffet e passou a abrigar as filhas dos imigrantes russos refugiados da II Guerra Mundial.

Fonte: Jô Ferreira
As atividades da missão educacional do Instituto Santa Olga, no Ipiranga, foram encerradas no final da década de 90 e o Palacete Rosa adquirido em 2003, para sua residência, pelo conhecido psicólogo e médium Luiz Antônio Gasparetto. Consta, que ele teria concretizado um sonho de sua época de criança no bairro. Durante cerca de três anos, o casarão, com dois pavimentos e mais de 900 metros quadrados de área construída, passou por uma cuidadosa e meticulosa restauração externa e interna. A revitalização, concluída em 2006, foi conduzida pela arquiteta Josanda Ferreira, e procurou harmonizar o antigo e o contemporâneo.

Isso pode ser constatado no antigo porão, localizado no subsolo, que passou por uma das principais intervenções. O amplo espaço, de 340 m2, servia de dormitório para  as Irmãs Ursulinas, quando o Instituto Santa Olga funcionava no Palacete. As alunas ocupavam os quartos no segundo andar. Após a reforma, foi instalado no espaço um mistura de SPA e residência de verão, com academia, sauna e ducha e onde funciona também um estúdio. Ali, o atual proprietário desenvolve seus projetos de decoração e guarda uma coleção de mais de 1.300 filmes antigos.  

A revitalização preservou, do lado de fora, o antigo charme da construção cuja arquitetura é de estilo mourisco, com seu minarete, e no seu interior conservou e acrescentou ainda mais luxo e conforto às instalações, com a ajuda dos recursos modernos. Hoje, o Palacete Rosa, que os primeiros proprietários, Munira e David Jafet, ergueram há 90 anos, tem até um SPA com ofurô e home theather. Mas estes são detalhes que os olhos do público não podem admirar.