Moscou 80 – Frango no avião e barco
da Globo à deriva na Olimpíada Inesquecível (final)
Testemunhei, como repórter da Folha de S. Paulo, à uma das mais importantes
e inesquecíveis conquistas olímpicas do Brasil: as duas medalhas de ouro, nas
Classes Tornado e 479, ganhas pelo iatismo nacional. Só para lembrar, as únicas
de ouro que a delegação brasileira trouxe de Moscou. Além de uma de bronze, com
João Carlos de Oliveira (o João do Paulo), no atletismo, e outra obtida pelo
revezamento 4x200 metros livre da natação masculina, com Djan Madruga, Cyro Delgado, Marcus Mattioli e
Jorge Fernandes.
arquivo Marcos Soares |
Para mim o feito da vela teve um sabor muito especial, porque é uma das modalidades
que mais medalhas deram ao Brasil e um dos esportes que eu acompanhava
praticamente todos os fins de semana. Cobri, um sem número de vezes, para a
Folha e Estadão (tive passagens na editoria de esportes de ambos) competições
locais, nacionais e internacionais na represa de Guarapiranga, na Zona Sul de
São Paulo. E fiz vários amigos, como Mário Buckup, de uma família de grande
velejadores brasileiros, empresário e ainda em atividade.
Arquivo Alex Welter |
E por isso, vibrei muito quando os experientes Alexandre Welter e Lars
Bjorkstrom, de São Paulo, na Classe Tornado, e os jovens cariocas Marcos Pinto
Rizzo Soares e Eduardo Penido, na Classe 470, ocuparam o lugar mais alto do pódio,
ao som do hino nacional enquanto subia a bandeira brasileira. E ainda teve
Cláudio Biekard, na Classe Finn, com um honroso quarto lugar.
Mas para chegar à bela e medieval Tallin, capital da Estônia, distante
1.000 km de Moscou, tive que convencer o rigoroso dispositivo de segurança dos
organizadores dos Jogos de que meu trabalho de jornalista credenciado não se
restringia às competições na capital soviética. Era imprescindível minha viagem
a Tallin, ainda mais que o Brasil tinha reais chances de medalhas.
Finalmente liberado, o vôo demorou uma hora, mas teve passagens curiosas:
nenhum dos outros passageiros pode entrar no avião antes de mim. No desembarque
também. O que se repetiu na volta. Outro detalhe: sem serviço de bordo, o
lanche era o que se tinha trazido para a bordo. Notei que muitos comiam frango
com farofa, devorados sem o uso de talheres. No melhor estilo de Dom João VI.
Além de mim, alguns companheiros de imprensa tiveram razões de sobra
para nunca se esquecer da competição de iatismo nas águas da baia de Tallin.
Uma equipe da TV Globo, integrada pela jornalista Monika Leitão, o repórter
cinematogáfico Daniel Andrade, e dois assistentes,
foi enviada para cobrir a chegada dos iatistas brasileiros.
Monika ficou em terra e os demais pegaram um barco para acompanhar a
regata. Porém houve um problema com a lancha e a equipe ficou à deriva durante
todo o dia e só foi resgatada à noite.
Do barco em que eu me encontrava com outros jornalistas, vi todo o desespero da equipe da TV Globo. O
trabalho de cobertura da entrega das medalhas só não foi totalmente perdido
graças à solidariedade de profissionais de um outro veículo de imprensa do
Brasil presente em Tallin.
Eu fui um dos que primeiro informaram ao pessoal de terra da Globo sobre
o que havia ocorrido com o barco de sua equipe. Em Moscou, na Vila Olímpica,
recebi o agradecimento pessoal do mestre Armando Nogueira (de saudosa memória)
e que coordenava todo o trabalho da equipe de esportes da Globo nos Jogos.
No próximo post, foto e prisão em Punta Carreta
Você mudou o dia de publicação do post. Hoje, olhei por acaso e vi mais uma aventura que não conhecia. Aguardo ansiosa sua próxima postagem.
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