segunda-feira, 27 de março de 2017

Olavo Setubal, austero, autêntico e empreendedor


 Ainda estão bem vivas na memória de todos as baixarias que marcaram, pelo Pais, as campanhas dos diferentes Partidos para a eleição do presidente da República e, também, a última, que escolheu os prefeitos e vereadores com mandato em andamento. Agressões verbais, ofensas pessoais pesadas, declarações deturpadas e mentiras deslavadas inundaram a mídia, os sites e, principalmente, as redes sociais.
Tudo isso não é novidade para ninguém. E o meu personagem deste post, o ex-prefeito Olavo Setubal, em cuja assessoria de imprensa tive o orgulho de trabalhar, já havia colocado o dedo na ferida há quase 40 anos. Em entrevista ao Estadão, em maio de 1988, ao justificar as razões para desistir de sua candidatura ao governo de São Paulo, após ter administrado a cidade de 1975 a 1979, ele dasabafou:
"Numa conjuntura política em que a característica é uma campanha extremamente agressiva, num cenário brasileiro onde calúnia e ataques pessoais são a regra, eu vi que não tinha condições de disputar um cargo efetivo sem que as organizações nas quais participo viessem a ser agredidas e prejudicadas. Não agüento mais debate, nem palestra, nem mesa redonda, nada. Não atendo a entrevistas. Só me dedico às coisas da minha vida porque não tenho objetivo nenhum de voltar. Não quero viver a vida pública mais."
As organizações às quais Setúbal estava se referindo eram algumas agências do Banco Itaú, que foram depredadas durante manifestações de sindicalistas em protesto contra aquisições feitas pela instituição financeira que ele fundou e dirigiu antes de ser prefeito.
Comparando com todas as Administrações a que servi, ao longo de 40 anos, a de Setubal foi a mais austera e eficiente. Não se destacou pela construção de obras de grande visibilidade, mas priorizou o  setor de serviços à população e deixou um expressivo legado para a Capital paulista.
Um vozeirão e uma gargalhada sonora, que ecoavam em qualquer ambiente onde se encontrava, eram dois de seus traços marcantes. Muito autêntico, era especialista em frases de efeito. Ao tomar posse no cargo de prefeito, em 1975, disparou uma das mais famosas: "Gerir São Paulo é a mesma coisa que gerir uma Suíça e uma Biafra ao mesmo tempo".
Nomeado para o cargo em 1975, pelo governador  Paulo Egydio Martins ( a escolha dos governantes era por via indireta), poucos acreditavam no sucesso do engenheiro Olavo Setubal. Afinal, nunca havia exercido um cargo na administração pública. Mas era reconhecido pelo empresariado pela grande capacidade empreendora e visão que o levaram a  fazer do Itaú o segundo maior banco privado do País, superado apenas pelo Bradesco.
 
Minhas funções na Secretaria de Imprensa, comandada pelo jornalista Lázaro Elias Severino, e sempre no período da manhã (à tarde eu trabalhava na Folha), era acompanhar o prefeito em seus compromissos externos e cobrir as atividades realizadas no Parque do Ibirapuera, sede da Prefeitura.

Assim, testemunhei seu estilo firme e decidido de lidar com os problemas trazidos ao seu gabinete pelos moradores. Eles vinham com vereadores ou deputados. Nos despachos que eu presenciava, Setubal mantinha o diálogo em alto nível, mas perdia a paciência quando alguém exagerava no tom. Aí ele justificava porque era chamado de Trovão pelos assessores e funcionários do gabinete: levantava-se, dava um murro na mesa e soltava sua voz forte, que ecoava pela ante-sala do gabinete e até no grande hall onde ficavam as recepcionistas. E a audiência estava encerrada.  

Outro hábito, a exemplo do que fazia como empresário: nunca deixava documentos amontoados sobre a mesa de trabalho ou guardados em gavetas. Alias, elas não tinham gavetas. Lia e assinava, sem perda de tempo, todos os documentos que lhe eram entregues. 

O problema das enchentes o preocupava. Mas ele não fazia promessas ou anunciava planos mágicos para acabar com elas, como ainda é praxe em todas as administrações que o sucederam. Preferia ser realista. Ao inspecionar obras de combate às inundações, na região do Tamanduateí, foi franco e afirmou que não haveria como resolver o problema antes do ano 2000. O Tamanduateí hoje está canalizado, como outros rios e córregos na cidade. Mudamos de século, mas São Paulo continua sofrendo com as enchentes, ano após ano, apesar dos pesados investimentos que são feitos em todas as administrações.

Ao final de seus quatro anos de gestão, conforme publicado pela imprensa na época, Setúbal tinha a aprovação da maioria da população. E do mundo político também. Ficou notória sua habilidade no relacionamento com os vereadores da Câmara Municipal, de maioria do MDB, embora ele fosse da ARENA: nunca teve um projeto vetado. Inclusive um dos mais polêmicos, o que distribuia as linhas de ônibus da cidade.  
Do legado que deixou para São Paulo, estão a abertura das avenidas Sumaré e Juscelino Kubitschek, a conclusão da reforma da Praça da Sé, interligando-a com a Praça Clovis Bevilaqua, a reurbanização da área central com a construção dos calçadões no centro velho e no novo, a desapropriação e restauração do Edifício Martinelli.
Criou ainda a EMURB, Empresa Municipal de Urbanização, atualmente Secretaria Municipal de Serviços e Obras,.inaugurou a segunda fase da linha Norte-Sul do Metrô e iniciou a da Leste-Oeste, transferiu o Metrô e a Comgás para o governo do Estado e unificou vários departamentos de trânsito em uma única secretaria, a de Vias Públicas.
De março de 1985 a fevereiro de 1986, no governo Sarney, foi ministro das Relações Exteriores, por indicação do então senador Tancredo Neves. Deixou o cargo para tentar concorrer ao Governo do Estado, mas não conseguiu ser indicado e voltou às suas atividades como empresário e banqueiro no Grupo Itaú.
Olavo Setúbal, o 39º prefeito de São Paulo, faleceu em 27 agosto de 2008, aos 85 anos.
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Um comentário:

  1. Oi amor.Gostei do Olavo. É muito triste não existirem mais homens como ele. Temos que engolir esses trastes que estão por aí, que nem sabem o que é fibra, honestidade e determinação para o bem. A ganância faz o homem só para o mal. Bj.

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