Olavo
Setubal, austero, autêntico e empreendedor
Ainda estão bem vivas
na memória de todos as baixarias que marcaram, pelo Pais, as campanhas dos
diferentes Partidos para a eleição do presidente da República e, também, a
última, que escolheu os prefeitos e vereadores com mandato em andamento.
Agressões verbais, ofensas pessoais pesadas, declarações deturpadas e mentiras
deslavadas inundaram a mídia, os sites e, principalmente, as redes sociais.
Tudo isso não é
novidade para ninguém. E o meu personagem deste post, o ex-prefeito Olavo
Setubal, em cuja assessoria de imprensa tive o orgulho de trabalhar, já havia
colocado o dedo na ferida há quase 40 anos. Em entrevista ao Estadão, em maio
de 1988, ao justificar as razões para desistir de sua candidatura ao governo de
São Paulo, após ter administrado a cidade de 1975 a 1979, ele dasabafou:
"Numa conjuntura política em que a
característica é uma campanha extremamente agressiva, num cenário brasileiro
onde calúnia e ataques pessoais são a regra, eu vi que não tinha condições de
disputar um cargo efetivo sem que as organizações nas quais participo viessem a
ser agredidas e prejudicadas. Não agüento mais debate, nem palestra, nem mesa
redonda, nada. Não atendo a entrevistas. Só me dedico às coisas da minha vida
porque não tenho objetivo nenhum de voltar. Não quero viver a vida pública
mais."
As organizações às
quais Setúbal estava se referindo eram algumas agências do Banco Itaú, que
foram depredadas durante manifestações de sindicalistas em protesto contra
aquisições feitas pela instituição financeira que ele fundou e dirigiu antes de
ser prefeito.
Comparando
com todas as Administrações a que servi, ao longo de 40 anos, a de Setubal
foi a mais austera e eficiente. Não se destacou pela construção de obras de
grande visibilidade, mas priorizou o setor de serviços à população e deixou um
expressivo legado para a Capital paulista.
Um vozeirão e uma
gargalhada sonora, que ecoavam em qualquer ambiente onde se encontrava, eram
dois de seus traços marcantes. Muito autêntico, era especialista em frases de
efeito. Ao tomar posse no cargo de prefeito, em 1975, disparou uma das mais
famosas: "Gerir São Paulo é a mesma coisa que gerir uma Suíça e uma Biafra
ao mesmo tempo".
Nomeado para o cargo em 1975, pelo governador Paulo Egydio Martins
( a escolha dos governantes era por via indireta), poucos acreditavam no
sucesso do engenheiro Olavo Setubal. Afinal, nunca havia exercido um
cargo na administração pública. Mas era reconhecido pelo empresariado
pela grande capacidade empreendora e visão que o levaram
a fazer do Itaú o segundo maior banco privado do País,
superado apenas pelo Bradesco.
Minhas funções na Secretaria de Imprensa, comandada pelo jornalista
Lázaro Elias Severino, e sempre no período da manhã (à tarde eu
trabalhava na Folha), era acompanhar o prefeito em seus compromissos
externos e cobrir as atividades realizadas no Parque do
Ibirapuera, sede da Prefeitura.
Assim, testemunhei seu estilo firme e decidido de lidar
com os problemas trazidos ao seu gabinete pelos moradores. Eles
vinham com vereadores ou deputados. Nos despachos que eu presenciava,
Setubal mantinha o diálogo em alto nível, mas perdia a paciência quando alguém
exagerava no tom. Aí ele justificava porque era chamado de Trovão pelos
assessores e funcionários do gabinete: levantava-se, dava um murro na mesa
e soltava sua voz forte, que ecoava pela ante-sala do gabinete e até
no grande hall onde ficavam as recepcionistas. E a audiência estava
encerrada.
Outro hábito, a exemplo do que fazia como empresário: nunca deixava
documentos amontoados sobre a mesa de trabalho ou guardados em gavetas. Alias,
elas não tinham gavetas. Lia e assinava, sem perda de tempo, todos os
documentos que lhe eram entregues.
O problema das enchentes o preocupava. Mas ele não fazia promessas ou
anunciava planos mágicos para acabar com elas, como ainda é praxe em todas as
administrações que o sucederam. Preferia ser realista. Ao inspecionar obras de
combate às inundações, na região do Tamanduateí, foi franco e afirmou que
não haveria como resolver o problema antes do ano 2000. O Tamanduateí hoje está
canalizado, como outros rios e córregos na cidade. Mudamos de século, mas São
Paulo continua sofrendo com as enchentes, ano após ano, apesar dos pesados
investimentos que são feitos em todas as administrações.
Ao final de seus quatro anos de gestão, conforme publicado pela
imprensa na época, Setúbal tinha a aprovação da maioria da população. E do
mundo político também. Ficou notória sua habilidade no relacionamento com os
vereadores da Câmara Municipal, de maioria do MDB, embora ele fosse da ARENA:
nunca teve um projeto vetado. Inclusive um dos mais polêmicos, o que distribuia
as linhas de ônibus da cidade.
Do legado que
deixou para São Paulo, estão a abertura das avenidas Sumaré e Juscelino Kubitschek, a conclusão da reforma da Praça da
Sé, interligando-a com a Praça Clovis Bevilaqua, a
reurbanização da área central com a construção dos calçadões no centro velho e
no novo, a desapropriação e restauração do Edifício Martinelli.
Criou ainda
a EMURB,
Empresa Municipal de Urbanização, atualmente Secretaria Municipal de Serviços e
Obras,.inaugurou a segunda fase da linha
Norte-Sul do Metrô e iniciou a da Leste-Oeste, transferiu o Metrô e a Comgás
para o governo do Estado e unificou vários departamentos de trânsito em uma
única secretaria, a de Vias Públicas.
De março
de 1985 a fevereiro de 1986, no governo
Sarney, foi ministro das Relações
Exteriores, por indicação do então senador Tancredo
Neves. Deixou o cargo para tentar
concorrer ao Governo do Estado, mas não conseguiu ser indicado e voltou às suas
atividades como empresário e banqueiro no Grupo Itaú.
Olavo Setúbal, o 39º prefeito de São Paulo, faleceu em 27 agosto de
2008, aos 85 anos.
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Oi amor.Gostei do Olavo. É muito triste não existirem mais homens como ele. Temos que engolir esses trastes que estão por aí, que nem sabem o que é fibra, honestidade e determinação para o bem. A ganância faz o homem só para o mal. Bj.
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