quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Jardim da Luz aguarda manutenção para recuperar o charme de antigamente


O belo lago do parque
É claro que, depois  de quase dois séculos de sua inauguração, em 1825, inicialmente como Horto Botânico  e de, a partir de 1838,  ter se transformado no primeiro  Jardim Público de  São Paulo,  o tradicional parque de 192 anos não poderia apresentar, nos tempos de hoje, o mesmo charme de antigamente, do período do Brasil Imperial,  por exemplo,  quando recebeu, em fevereiro de 1846, a visita de nada menos do que  Dom  Pedro II.  E que até o final do século XIX era a principal área verde e opção de entretenimento da elite paulistana,  palco de eventos importantes, e elogiada pelos viajantes e denominada  de “joia” da cidade.
Definitivamente,  talvez em função  de um certo descaso do poder público,  o  Jardim da Luz  não passa por um bom momento.  O principal motivo seria que,  desde o  término do  contrato com a empresa responsável pela sua manutenção e manejo , em maio,  o mais tradicional  espaço de lazer  da  região central  da capital,  com área de 113.400², e que recebe entre 4 a 5 mil pessoas nos fins de semana,  exibe uma aparência mal  cuidada  e até com ares de  abandono.  Não se deixem enganar,  portanto,  os que acessarem  este blog,  pelas  atraentes  imagens  que ilustram este texto e que foram feitas e publicadas em 2012 pelo site  especializado  Áreas Verdes da Cidade  - www.areasverdesdascidades.com.br/2012/06/parque-jardim-da-luz.html.

Basta o visitante,  como eu fiz na tarde da última terça-feira (19), entrar  e caminhar alguns metros  para constatar a triste realidade.  As alamedas,  pistas e trilhas estão sujas e cobertas por tapetes de folhas secas que caem das árvores e não são varridas; a grama dos jardins está muita alta pela falta de corte e o mato toma conta e envolve muitas das numerosas esculturas ao ar livre,  de artistas famosos,  instaladas  por toda a área.  O Aquário, uma das atrações mais  visitadas  está fechado por causa de vazamento e até  o telefone da Casa da Administração não funciona.

Moradores  de  rua,  prostitutas  e usuários  da Cracolândia,  localizada não muito  distante
foto:divulgação
dali, que circulam  por toda a área ou ocupam os bancos,  formam o público habitual  nos  dias úteis.  Eles se misturam  aos milhares de paulistanos  que,  indo ou vindo do trabalho,  usam o parque  diariamente como passagem, ingressando pelo portão principal, em frente da  Estação da Luz, e saindo do outro lado, na rua Ribeiro de Lima.

Conversei por um bom tempo, na Casa da Administração, com a atual gestora do parque,  Fernanda Pereira,  da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente,  que administra o espaço por meio do Departamento de Parques e Áreas Verdes.  Atenciosa,  e sem querer  tapar o sol com a peneira,  ela  é a primeira a reconhecer  que todos os problemas decorrem, simplesmente, da falta de manutenção. 

“O contrato com a terceirizada foi encerrado em maio. Houve uma licitação mas  o resultado foi embargado.  Outra está em andamento e  aguardamos a escolha da nova empresa. Enquanto isso,  não temos os serviços de varrição, roçagem da grama dos  jardins, limpeza geral,  Enfim, todo um trabalho de manutenção, que exigiria não mais do que seis pessoas,  foi interrompido,  disse a gestora, há seis meses no cargo.     

Ela cita algumas demonstrações  expontâneas  de apreço e carinho pelo parque da parte de usuários  que moram na região e se sentem incomodados  com a atual situação: um grupo de sete senhoras que frequentam o espaço  faz ações de mutirão de limpeza na área.  A ultima foi no dia 7 de setembro e a próxima está programada para 7 de outubro.  E tem também  um coreano, com mais de 70 anos de idade, que  comparece diariamente ao local  só para limpar o parque.  Aliás,  Fernanda comenta que os coreanos, que  dominam o comércio na rua José Paulino,  onde antes predominavam árabes e judeus, são a maioria entre os usuários do Jardim da Luz nos fins de semana.

Dança circular e carros

Com a exceção de segunda-feira, quando fecha para manutenção (?), o parque abre diariamente das 9 às 18 horas. Mas, atualmente,  são apenas duas as atividades fixas programadas para os usuários. que procuram o espaço.
Apresentação no parque


Até pouco tempo, eram apresentadas peças de teatro  às quintas, sábados e domingos num palco armado no coreto, mas de acordo com a gestora esta atividade está suspensa talvez por causa da crise econômica. Ela lembra que a última peça encenada foi  "Diáspora", sem precisar a data.

No momento, grupos abertos ao público participam, sempre no segundo domingo do mês, da atividade 'Dança Circular, das 10 às 12 horas. Também há uma exposição de carros antigos, igualmente no segundo domingo de cada mês, das 9 às 13 horas. Alguns veículos ficam no interior do parque e a maior parte do lado de fora, em frente ao portão principal.

Flora e Fauna  
Árvores centenárias

Feche os seus olhos para os incômodos problemas de manutenção e comemore a entrada da Primavera (começou nesta sexta-feira ( 22) e o Dia da Árvore (foi na véspera) com uma visita ao Jardim da Luz.

Com a facilidade de transporte (Metrô, CPTM e várias linhas de ônibus servem o local) e a localização privilegiada, aos sábados e domingos cerca de 4 mil pessoas procuram o  Jardim da Luz.para algumas horas de lazer e entretenimento. Ou para caminhar pelas alamedas, entrar em contato com a natureza, admirar árvores centenárias, observar e escutar o canto de espécies de sua fauna, descansar à sombra lendo um livro sentado nos bancos em frente das áreas ajardinadas.

Foram documentadas 165 espécies de plantas nativas e exóticas.  Algumas delas são centenárias e pelo menos 10 correm risco de extinção, entre as quais a Cabreúva, Cambuci
e Palmito-jussara..  Da grande variedade existente no local, muitas são frutíferas como a Jaqueira, o Jambolão, Castanheira, Sapucaia e Genipapo. Outras chamam atenção pelo grande porte, como uma centenária Figueira, Pinheiro do Paraná, Alecrim-de- Campinas,  Guatambú, Eucalipto, Coqueiros, Cedro e Palmeiras,

A fauna é diversificada e foram catalogadas 73 espécies. Mais de 90% delas são aves, O usuário verá, entre outras, Socó-dorminhoco, Irerê, Martim-pescador-grande, Gavião-caboclo, Periquito, Papagiaio, Caracará, Pombas Silvestres, diversas espécies de Beija-flores e, com sorte, até um Bicho-Preguiça, quem sabe herdeiro do primeiro e extinto Jardim Zoológico paulistano, Carpa-comum e Tilápias. O parque serve de ponto de parada para outros pássaros: Beija-flor-preto, Tucano-de-bico-verde,Tucano-de-bico-preto e Bem-te-vi-pirata. ..

Arte por todos os lados
Pinacoteca

A Pinacoteca do Estado, uma das mais importantes atrações culturais da Capital, e que faz
Monumento a Giuseppe Garibaldi
parte do Jardim da Luz, inclusive com acesso por meio dele, disponibilizou 21 esculturas do seu acervo e as instalou por várias áreas do parque.


Entre as obras de respeitados nomes nacionais e internacionais estão "Três Jovens",.de Lazari Segall, de 1939; " A carregadora de perfume", de Victor Brecheret,, de1923/1924;  "Homem Pássaro", de Vlavianos, de 1985;  "Botão de rosa, carneiro, cisne, flor redonda, papoula, pássaro imaginário e tulipa", de Odette Haidar Eid, de 1983/2002; " Á procura da luz", de Maria Martins, de 1940 e trabalhos, sem título, de Amilcar de Castro, Marcelo Silveira e Angelo Venosa, entre outros.

Despertam atenção especial o lago em formato da Cruz de Malta, cercado por oito escultruras e que correspondem às quatro estações do ano, e um busto feito pelo escultor romano Emílio Gallori, em homenagem a Giuseppe Garibaldi, herói da Revolução Farroupilha, e que foi inaugurada em 1910 por Olavo Bilac. Esta obra era tida, na época, como a única arte escultórica de São Paulo e o local foi escolhido porque ali várias famílias italianas se reuniam para festas em honra do compatriota.
Carregadora de Perfume

No interior do parque, acesse o pequeno mirante sobre a gruta e cascata, para ter uma vista panorâmica do espaço. E dê uma olhada no sítio arqueológico que fica perto da entrada principal. Foi encontrado  depois de escavações no local que levou à descoberta das fundações de uma torre de 20 metros de altura. Trata-se do "Observatório Meteorológico", construído em 1875 e seu topo era o ponto mais alto da cidade  e usado como mirante pela população. Sua demolição ocorreu em 1900, quando foi concluída a torre da Estação da Luz. 

Aquário
Uma outra atração, o Aquário Subterrâneo, descoberto em 2000, e que fica abaixo da estátua de "Diana", próxima do Lago da Cruz de Malta, no momento  não pode ser visitada
porque está com vazamento. Uma pena, mas até que o problema seja resolvido, o visitante não poderá  ver as 13 espécies de peixes nativos dos rios Tietê e Paraíba do Sul. 

Iluminação pioneira e bonde

O Jardim da Luz, em sua longa história,. teve muitos altos e baixos, com alteração inclusive de sua simetria por causa da cessão de partes de seu terreno, por determinação do Governo do Estado,  para a construção da estação de  trem da  São Paulo Railway, em 1860 , atual Estação da Luz, e mais tarde do Colégio Prudente de Moraes e do Liceu de Artes e Ofícios, inaugurado em 1900 e que hoje abriga a Pinacoteca.

Um fato marcante de sua existência, a partir de um documento real que data de 1798, determinando a criação de um horto botânico em São Paulo, Pernambuco e Rio: foi ali a primeira exibição de luz elétrica em São Paulo, em 1883, e o público que correu ao local teve que pagar ingresso. Também houve no seu interior a primeira quermesse na Capital, organizada pela comunidade francesa, em  1882, e a recepção, em 25 de abril de 1870, ao grupo de 200 soldados do batalhão dos Voluntários da Pátria, que lutaram na Guerra do Paraguai.  

Em outubro de 1872, a Companhia de Carris de São Paulo inaugurou o sistema de bondes de tração animal, e o itinerário da Linha incluia um ponto em frente ao parque. Registre-se ainda que, em 1874, o Jardim da Luz ganhou um Observatório Meteorológico, uma torre de 20 metros de altura conhecida como Canudo de João Teodoro  destruída em 1900.

Um resumo rápido mostra os símbolos do parque  que resistiram ao tempo, após reformas e restauros.
Casa Administração

Casa do Administrador  -  Construída para moradia da família de Antonio Etzel, um jardineiro austríaco nomeado administrador do parque pelo prefeito Antonio Prado, hoje é a sede da Administração e local de exposições. Reformada entre 2006 e 2007, precisa de alguns reparos internos, incluindo a pintura, segundo a gestora Fernanda Pereira.

Coreto - O original  data de 1880  e era usado para apresentações das bandas musicais  das colônias de
Coreto
imigrantes e bailes tradicionais no local. O atual é de 1911 e foi construído  por  Maximiliano Emílio Hehl, professor da Escola Politécnica.


Gruta e Cascata
Gruta e Cascata -   É da década de 1880 e funciona também como caixa d'água, com capacidade para 25 mil litros. Em seu topo há um mirante que permite vista quase total do parque.

Aquário subterrâneo -  Encontrado sob o espelho d'água localizado perto do Lago Cruz de Malta, durante a reforma de 1999 quando algumas árvores foram transferidas para outro local. É o primeiro no gênero da cidade. No momento está fechado por causa de vazamento. 
Ponto Chic


Ponto Chic - Talvez a construção mais charmosa, ao lado do coreto. É do início do século XIX e funcionava como um bar tipo “ café”.
Devido à popularização do consumo da bebida na época, estes “cafés” tornaram-se pontos de encontro das elites paulistanas e o do Jardim da Luz ficou conhecido como Ponto Chic.


Seguro, mas há vandalismo

A gestora Fernanda Pereira, antes de vir para o Jardim da Luz, atuou nos  Parques Alfredo Volpi, Cidade de Toronto e do Povo e destaca que no quesito segurança para o público o da Luz é  menos perigoso do que aqueles. "Temos uma base do Copom na saída da rua Ribeiro de Lima, cujos policiais ao lado de GCMs fazem rondas constantes nos dias úteis e nos fins de semana, quando o fluxo de visitantes é muito grande. Não são comuns assaltos e nem furtos, mas de vez em quando ocorrem atos de vandalismo. Houve uma ocasião em que uma pessoa derrubou uma das esculturas do parque, mas foi preso e a Pinacoteca reparou os danos na obra.

A última grande restauração no parque foi feita a partir de julho de 1999, depois de um período de muita degradação na década de 1990,  período em que praticamente não houve reformas e parte do seu patrimônio ficou deteriorado e o espaço tornou-se um ponto de prostituição e de usuários de drogas.

O restauro teve obras de recuperação de espécies vegetais, impermeabilização dos lagos e substituição dos sistemas hidráulicos e elétricos e, na fase final, melhorias no Coreto, na Gruta e na Casa da Administração, entre outras.

Quem frequenta o Jardim da Luz tem à disposição serviços como bebedouros, sanitários, equipamentos de ginástica e pista de cooper. Mas não há bares ou lanchonetes no seu interior, não é permitido  andar de bicicleta, porém existem bicicletários próximo às entradas. É permitido levar cachorro de grande porte, desde que estejam usando guias ou focinheiras.

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