Jardim da Luz aguarda manutenção para recuperar o charme de antigamente
O belo lago do parque |
Definitivamente, talvez em função
de um certo descaso do poder público, o Jardim da Luz
não passa por um bom momento. O
principal motivo seria que, desde o término do
contrato com a empresa responsável pela sua manutenção e manejo , em maio, o mais tradicional espaço de lazer da região central da capital, com área de 113.400², e que recebe entre 4 a 5 mil pessoas nos fins
de semana, exibe uma aparência mal cuidada e até com
ares de abandono. Não se deixem
enganar, portanto, os que acessarem este blog, pelas atraentes imagens
que ilustram este texto e que
foram feitas e publicadas em 2012 pelo site
especializado Áreas Verdes da
Cidade - www.areasverdesdascidades.com.br/2012/06/parque-jardim-da-luz.html.
Basta
o visitante, como eu fiz na tarde da
última terça-feira (19), entrar e caminhar
alguns metros para constatar a triste
realidade. As alamedas, pistas e trilhas estão sujas e cobertas por
tapetes de folhas secas que caem das árvores e não são varridas; a grama dos jardins está muita alta pela
falta de corte e o mato toma conta e envolve muitas das numerosas esculturas ao
ar livre, de artistas famosos, instaladas por toda a área. O Aquário, uma das atrações mais visitadas
está fechado por causa de vazamento e até o telefone da Casa da Administração não funciona.
Moradores de rua, prostitutas e usuários da Cracolândia, localizada não muito distante
foto:divulgação |
Conversei
por um bom tempo, na Casa da
Administração, com a atual gestora do
parque, Fernanda Pereira, da Secretaria Municipal do Verde e Meio
Ambiente, que administra o espaço por
meio do Departamento de Parques e Áreas Verdes.
Atenciosa, e sem querer tapar o sol com a peneira, ela é
a primeira a reconhecer que todos os
problemas decorrem, simplesmente, da falta de manutenção.
“O
contrato com a terceirizada foi encerrado em maio. Houve uma licitação mas o resultado foi embargado. Outra está em andamento e aguardamos a escolha da nova empresa.
Enquanto isso, não temos os serviços de varrição, roçagem da grama dos jardins, limpeza geral, Enfim, todo
um trabalho de manutenção, que exigiria não mais do que seis pessoas, foi interrompido, disse a gestora, há seis meses no cargo.
Ela cita algumas demonstrações expontâneas
de apreço e carinho pelo parque da parte de usuários que moram na região e se sentem incomodados com a atual situação: um grupo de sete senhoras que frequentam o espaço
faz ações de mutirão de limpeza na área. A ultima foi no dia 7 de setembro e a próxima
está programada para 7 de outubro. E tem
também um coreano, com mais de 70 anos de idade, que comparece diariamente ao local só para limpar o parque. Aliás, Fernanda
comenta que os coreanos, que dominam o comércio na rua José Paulino, onde antes predominavam árabes e judeus, são a maioria entre os usuários do Jardim da
Luz nos fins de semana.
Dança
circular e carros
Com a exceção de segunda-feira, quando fecha para manutenção (?), o parque abre diariamente das 9 às 18 horas. Mas, atualmente, são apenas duas as atividades fixas programadas para os usuários. que procuram o espaço.
Apresentação no parque |
Até pouco tempo, eram apresentadas peças de teatro às quintas, sábados e domingos num palco armado no coreto, mas de acordo com a gestora esta atividade está suspensa talvez por causa da crise econômica. Ela lembra que a última peça encenada foi "Diáspora", sem precisar a data.
No momento, grupos abertos ao público participam, sempre no segundo domingo do mês, da atividade 'Dança Circular, das 10 às 12 horas. Também há uma exposição de carros antigos, igualmente no segundo domingo de cada mês, das 9 às 13 horas. Alguns veículos ficam no interior do parque e a maior parte do lado de fora, em frente ao portão principal.
Flora e Fauna
Árvores centenárias |
Feche os seus olhos para os incômodos problemas de manutenção e comemore a entrada da Primavera (começou nesta sexta-feira ( 22) e o Dia da Árvore (foi na véspera) com uma visita ao Jardim da Luz.
Com a facilidade de transporte (Metrô, CPTM e várias linhas de ônibus servem o local) e a localização privilegiada, aos sábados e domingos cerca de 4 mil pessoas procuram o Jardim da Luz.para algumas horas de lazer e entretenimento. Ou para caminhar pelas alamedas, entrar em contato com a natureza, admirar árvores centenárias, observar e escutar o canto de espécies de sua fauna, descansar à sombra lendo um livro sentado nos bancos em frente das áreas ajardinadas.
Foram documentadas 165 espécies de plantas nativas e exóticas. Algumas delas são centenárias e pelo menos 10 correm risco de extinção, entre as quais a Cabreúva, Cambuci
e Palmito-jussara.. Da grande variedade existente no local, muitas são frutíferas como a Jaqueira, o Jambolão, Castanheira, Sapucaia e Genipapo. Outras chamam atenção pelo grande porte, como uma centenária Figueira, Pinheiro do Paraná, Alecrim-de- Campinas, Guatambú, Eucalipto, Coqueiros, Cedro e Palmeiras,
A fauna é diversificada e foram catalogadas 73 espécies. Mais de 90% delas são aves, O usuário verá, entre outras, Socó-dorminhoco, Irerê, Martim-pescador-grande, Gavião-caboclo, Periquito, Papagiaio, Caracará, Pombas Silvestres, diversas espécies de Beija-flores e, com sorte, até um Bicho-Preguiça, quem sabe herdeiro do primeiro e extinto Jardim Zoológico paulistano, Carpa-comum e Tilápias. O parque serve de ponto de parada para outros pássaros: Beija-flor-preto, Tucano-de-bico-verde,Tucano-de-bico-preto e Bem-te-vi-pirata. ..
Arte por todos os lados
Pinacoteca |
A Pinacoteca do Estado, uma das mais importantes atrações culturais da Capital, e que faz
Monumento a Giuseppe Garibaldi |
Entre as obras de respeitados nomes nacionais e internacionais estão "Três Jovens",.de Lazari Segall, de 1939; " A carregadora de perfume", de Victor Brecheret,, de1923/1924; "Homem Pássaro", de Vlavianos, de 1985; "Botão de rosa, carneiro, cisne, flor redonda, papoula, pássaro imaginário e tulipa", de Odette Haidar Eid, de 1983/2002; " Á procura da luz", de Maria Martins, de 1940 e trabalhos, sem título, de Amilcar de Castro, Marcelo Silveira e Angelo Venosa, entre outros.
Despertam atenção especial o lago em formato da Cruz de Malta, cercado por oito escultruras e que correspondem às quatro estações do ano, e um busto feito pelo escultor romano Emílio Gallori, em homenagem a Giuseppe Garibaldi, herói da Revolução Farroupilha, e que foi inaugurada em 1910 por Olavo Bilac. Esta obra era tida, na época, como a única arte escultórica de São Paulo e o local foi escolhido porque ali várias famílias italianas se reuniam para festas em honra do compatriota.
Carregadora de Perfume |
No interior do parque, acesse o pequeno mirante sobre a gruta e cascata, para ter uma vista panorâmica do espaço. E dê uma olhada no sítio arqueológico que fica perto da entrada principal. Foi encontrado depois de escavações no local que levou à descoberta das fundações de uma torre de 20 metros de altura. Trata-se do "Observatório Meteorológico", construído em 1875 e seu topo era o ponto mais alto da cidade e usado como mirante pela população. Sua demolição ocorreu em 1900, quando foi concluída a torre da Estação da Luz.
Aquário |
porque está com vazamento. Uma pena, mas até que o problema seja resolvido, o visitante não poderá ver as 13 espécies de peixes nativos dos rios Tietê e Paraíba do Sul.
Iluminação pioneira e bonde
O Jardim da Luz, em sua longa história,. teve muitos altos e baixos, com alteração inclusive de sua simetria por causa da cessão de partes de seu terreno, por determinação do Governo do Estado, para a construção da estação de trem da São Paulo Railway, em 1860 , atual Estação da Luz, e mais tarde do Colégio Prudente de Moraes e do Liceu de Artes e Ofícios, inaugurado em 1900 e que hoje abriga a Pinacoteca.
Um fato marcante de sua existência, a partir de um documento real que data de 1798, determinando a criação de um horto botânico em São Paulo, Pernambuco e Rio: foi ali a primeira exibição de luz elétrica em São Paulo, em 1883, e o público que correu ao local teve que pagar ingresso. Também houve no seu interior a primeira quermesse na Capital, organizada pela comunidade francesa, em 1882, e a recepção, em 25 de abril de 1870, ao grupo de 200 soldados do batalhão dos Voluntários da Pátria, que lutaram na Guerra do Paraguai.
Em outubro de 1872, a Companhia de Carris de São Paulo inaugurou o sistema de bondes de tração animal, e o itinerário da Linha incluia um ponto em frente ao parque. Registre-se ainda que, em 1874, o Jardim da Luz ganhou um Observatório Meteorológico, uma torre de 20 metros de altura conhecida como Canudo de João Teodoro destruída em 1900.
Um resumo rápido mostra os símbolos do parque que resistiram ao tempo, após reformas e restauros.
Casa Administração |
Casa do Administrador - Construída para moradia da família de Antonio Etzel, um jardineiro austríaco nomeado administrador do parque pelo prefeito Antonio Prado, hoje é a sede da Administração e local de exposições. Reformada entre 2006 e 2007, precisa de alguns reparos internos, incluindo a pintura, segundo a gestora Fernanda Pereira.
Coreto - O original data de 1880 e era usado para apresentações das bandas musicais das colônias de
Coreto |
Gruta e Cascata |
Aquário subterrâneo - Encontrado sob o espelho d'água localizado perto do Lago Cruz de Malta, durante a reforma de 1999 quando algumas árvores foram transferidas para outro local. É o primeiro no gênero da cidade. No momento está fechado por causa de vazamento.
Ponto Chic |
Ponto Chic - Talvez a construção mais charmosa, ao
lado do coreto. É do início do século XIX e funcionava como um bar tipo “
café”.
Devido à
popularização do consumo da bebida na época, estes “cafés” tornaram-se pontos
de encontro das elites paulistanas e o do Jardim da Luz ficou conhecido como
Ponto Chic.
A gestora Fernanda Pereira, antes de vir para o Jardim da Luz, atuou nos Parques Alfredo Volpi, Cidade de Toronto e do Povo e destaca que no quesito segurança para o público o da Luz é menos perigoso do que aqueles. "Temos uma base do Copom na saída da rua Ribeiro de Lima, cujos policiais ao lado de GCMs fazem rondas constantes nos dias úteis e nos fins de semana, quando o fluxo de visitantes é muito grande. Não são comuns assaltos e nem furtos, mas de vez em quando ocorrem atos de vandalismo. Houve uma ocasião em que uma pessoa derrubou uma das esculturas do parque, mas foi preso e a Pinacoteca reparou os danos na obra.
A última grande restauração no parque foi feita a partir de julho de 1999, depois de um período de muita degradação na década de 1990, período em que praticamente não houve reformas e parte do seu patrimônio ficou deteriorado e o espaço tornou-se um ponto de prostituição e de usuários de drogas.
O restauro teve obras de recuperação de espécies vegetais, impermeabilização dos lagos e substituição dos sistemas hidráulicos e elétricos e, na fase final, melhorias no Coreto, na Gruta e na Casa da Administração, entre outras.
Quem frequenta o Jardim da Luz tem à disposição serviços como bebedouros, sanitários, equipamentos de ginástica e pista de cooper. Mas não há bares ou lanchonetes no seu interior, não é permitido andar de bicicleta, porém existem bicicletários próximo às entradas. É permitido levar cachorro de grande porte, desde que estejam usando guias ou focinheiras.
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