sexta-feira, 16 de junho de 2017

Parque Dom Pedro II: revitalização é miragem, degradação uma dura realidade

Desde que cheguei a São Paulo, há 56 anos, e na minha condição de jornalista que atuou por 40 anos na Assessoria de Imprensa da Prefeitura, testemunhei o anúncio de ambiciosos planos e/ou projetos urbanísticos, batizados com diferentes nomes, para a revitalização do tradicional Parque Dom Pedro II, distante menos de um quilômetro da Praça da Sé. Infelizmente, prefeito após prefeito, nenhum foi concretizado.

Foto: Divulgação
Um deles, apresentado à mídia na gestão de Gilberto Kassab, foi elaborado pela Fundação para a Pesquisa Ambiental, ligada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Com um custo estimado em R$ 1,5 bilhão, teve um tímido avanço: a implosão dos edifícios São Vito e Mercúrio, que várias administrações anteriores tentavam, sem sucesso, há anos, riscar da paisagem paulistana.

O imenso vazio, que surgiu perto do Mercado Municipal, por algum tempo serviu de estacionamento público para clientes do Mercadão, depois da retirada dos escombros que sobraram dos dois prédios. Até que o terreno municipal foi cedido pelo prefeito Fernando Haddad, em 2013, por meio de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal, com validade por 99 anos, para o SESC construir no local mais uma de suas unidades, nos moldes das 39 existentes em diferentes bairros da Capital.

A medida, dizia-se na ocasião, abriria espaço para a revitalização do Parque Dom Pedro II, prometida há mais de dez anos durante as gestões de Marta Suplicy, José Serra e Gilberto Kassab, Na última proposta apresentada, a remodelação daria à região novos pontilhões, espelhos d’agua e até um parque linear. A lei sancionada por Haddad concedeu um prazo de 12 meses ao SESC para apresentar à Prefeitura um projeto de ocupação da área onde os dois edifícios foram demolidos. 

Enquanto o SESC Parque Dom Pedro II não é erguido, o espaço já oferece atividades culturais, de lazer e esportivas à população em todos os fins de semana.

Foto autor desconhecido
Até que se materialize a revitalização da região, que foi a antiga Várzea do Carmo, e seu entorno, a população que diariamente faz uso desta ligação entre o centro histórico de São Paulo e a Zona Leste, não acredita que um dia verá a transformação do atual Parque Dom Pedro II – um mar de carros, ônibus e viadutos, exemplo de degradação urbana ao longo de décadas -  sujo e perigoso, em um atraente parque público dominado pelo verde.   

O último plano, engavetado principalmente pelo seu custo astronômico, começaria no primeiro semestre de 2012. De acordo com o que foi anunciado na época pelo secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, o projeto estava dividido em quatro fases. A primeira terminaria em 2013, com a construção de um pontilhão sobre o rio Tamanduateí, para permitir a demolição do Viaduto Diário Popular. O pontilhão possibilitaria o acesso da área central ao atual terminal de ônibus.

Perto do terminal haveria um centro de compras para dar mais dinamismo ao eixo comercial da Rua 25 de Março e combater o comércio ilegal, conforme destacado pelo então prefeito Gilberto Kassab. Outra intervenção do projeto: a construção de um estacionamento público, com 2.600 vagas, ao lado do Mercadão. E ainda dentro da primeira etapa do plano, no local da demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio, o SESC implantaria uma unidade para atender 15 mil pessoas, segundo disse o empresário Abram Szajman, que era o presidente da entidade.

A segunda fase do projeto, que tinha previsão para ocorrer entre 2011 e 2014, falava na construção de dois túneis em cada um dos lados do rio Tamanduateí, para ajudar na transposição leste/oeste. E, na terceira, no período de 2013 e 2015, seria feita a demolição dos viadutos 25 de Março e Antônio Nakashima para a restauração do sistema viário da região

Finalmente, em sua última etapa . a revitalização urbana estabelecia para o período de 2014 a 2016 que o Terminal Urbano Parque Dom Pedro II e o Terminal Expresso Tiradentes seriam instalados ao lado da estação Dom Pedro do metrô, permitindo a construção de um novo terminal intermodal. E também fazendo parte desta fase, seriam implantadas lagoas de retenção na área do terminal com função paisagística e de sistema de drenagem. Depois de tudo anunciado, ficou faltando só o mais importante: a abertura da licitação para saber quem executaria todas as obras do ambicioso projeto.

Mas, a administração de Fernando Haddad, encerrada em 2016, optou por um plano mais “pé no chão”, com medidas econômicas e sociais e não apenas urbanísticas na região, levando em conta que a área estava tomada por moradores de rua e usuários de drogas. O prefeito tentou desenvolver na região um projeto semelhante ao do programa Braços Abertos, pelo qual usuários de crack são convidados a trabalhar e morar em imóveis e hotéis pagos pelo Município  O modelo foi implementado inicialmente na Cracolândia, mas não chegou ao Parque Dom Pedro II.

Foto autor desconhecido
 Projetado pelo francês Joseph-Antoine Bouvard (1840-1920), o Parque  foi entregue em 1922, dentro das comemorações do Centenário da Independência, como a principal área de lazer da cidade. Nela funcionou um grande parque de diversões, chamado Shangai, havia um lago com uma fonte e até a Ilha dos Amores, tudo registrado nos arquivos da época. Mas o “progresso” trouxe mudanças substanciais, como a chegada dos viadutos a partir da década de 1960, que hoje são cinco, e a abertura da Avenida do Estado, descaracterizando gradativamente a região.

Foto :Terminal de Ônibus - wikipédia
O Parque perdeu cerca de metade da área verde que possuía quando de sua inauguração. Posteriormente, veio a construção da Estação do Metrô e do Terminal de Ônibus, que se tornou o mais movimentado da Capital. A decadência da região e seu entorno se acentuou e atualmente ali se verifica umas maiores concentrações de vendedores ambulantes e de moradores de rua de São Paulo. A violência também cresceu, e o trânsito de pessoas pelas áreas arborizadas e embaixo dos viadutos é pouco seguro, principalmente a passagem de pedestres que separa o Parque do antigo Palácio das Indústrias, hoje Museu Catavento, e que foi apelidada de “Faixa de Gaza”.   

Foto wikipédia
 E assim, a revitalização do Parque Dom Pedro II continua sendo apenas uma miragem, e a constante degradação da região, uma dura realidade. Disso são testemunhas diárias os quase 3 mil alunos e professores da Escola Estadual São Paulo, talvez o mais antigo estabelecimento de ensino público da Capital, fundado em 1894, o primeiro a ter ensino secundário, e que funciona no local desde 1958.

Todos convivem com a insegurança, e não raro são vitimas de assaltos, principalmente à noite. Como eu que, na gestão do prefeito Celso Pitta, fui abordado por dois pivetes quando deixava o Palácio das Indústrias em direção ao metrô, e após passar  pelas proximidades da escola. Foi-se um relógio, mas, felizmente, ficaram os dedos.







Nenhum comentário:

Postar um comentário