Arte e abandono nas poucas passagens
subterrâneas para pedestres em São Paulo
A grande incidência de
acidentes de trânsito, a maioria com o atropelamentos fatais, devido ao
acelerado desenvolvimento urbano e o aumento do volume do tráfego de veículos, fez
surgir as passagens subterrâneas para pedestres, no final da década de 30, na
paisagem urbana de São Paulo. As ocorrências envolviam ônibus, carros e,
principalmente, bondes, e eram frequentes nos cruzamentos das avenidas mais
movimentadas da Capital.
A primeira intervenção foi em 1938, ligando
os dois lados da Av.Rangel Pestana, no trecho entre a rua Piratininga e o Largo
da Concórdia. O ponto foi escolhido para dar maior segurança à travessia dos
alunos do Grupo Escolar Romão Puiggari, que ficava do outro lado da avenida.
A passagem ficou pronta em
setembro daquele ano e tinha ladrilhos brancos nas paredes. Um zelador mantinha
o local em boas condições durante o dia. A população fazia uso constante e
houve uma queda do número de acidentes na avenida,
Com o passar do tempo,
entretanto, a zeladoria foi removida, a passagem passou a ser usada como
banheiro público deixando um forte cheiro de urina e de creolina após a limpeza
diária. Os problemas aumentaram com a ocorrência de assaltos, tornando o local
inseguro e afugentando os pedestres que preferiam atravessar a Rangel Pestana
pela superfície. Abandonada, a passagem foi desativada e fechada pela
Prefeitura nos anos 60 e assim permanece até hoje.
passagem Mappin |
Outra passagem subterrânea
importante para a mobilidade urbana fica na região central e, infelizmente,
também foi desativada há um bom tempo
Como milhares de paulistanos,
eu também a utilizava bastante para ir
da rua Barão de Itapetininga ao Viaduto do Chá, e vice- versa, ou acessar
a Xavier de Toledo, em frente do antigo Mappin, hoje Casas Bahia, do Teatro
Municipal e do prédio da Ligth, atualmente um shopping do mesmo nome.
Aliás, foi ali que atuou, por
muitos anos, o famoso guarda Luisinho, que fazia os motoristas abrirem as
portas dos seus veículos para as pessoas passarem por dentro quando os carros paravam
sobre a faixa dos pedestres.
A passagem subterrânea do
Mappin, como era conhecida, dava mais segurança a todos que diariamente
circulam por um dos pontos de maior movimento de trânsito da Capital. Uma
região com alto índice de atropelamento.
passagem Prestes Maia |
Em 2005, foi divulgado pela mídia um acordo entre a então Subprefeitura da Sé, hoje
Prefeitura Regional, as Casas Bahia e o Shopping Light para a reabertura da
passagem subterrânea. O plano previa a recuperação dos pisos, escadas, portões,
melhoria da iluminação interna e instalação de câmeras de vigilância, que
seriam monitoradas pela Central de Segurança do Shopping Light. .
A atual administração do shopping desconhece a existência do acordo, que , ao que tudo indica, ficou
apenas na intenção. Nesta quarta-feira (7), passando pelo local , à tarde, vi
um caminhão de empresa de limpeza, que atende a prefeitura Regional da Sé,
usando mangueiras e lavando a passagem com jatos de água em toda a sua
extensão. Segundo o motorista do veículo, há 5 anos este serviço é feito três
vezes por semana. Mas a passagem segue fechada.
Outra passagem, bastante mais problemática,
está localizada no bairro da Lapa, na Zona Oeste. E é conhecida por nome nada poético,
Toca Da Onça. Liga as ruas William Speers e John Harrison.
Dois fatores fazem com que os
moradores da região evitem usar a passagem: a falta de segurança e os
constantes alagamentos no local. O último deles, de acordo com o registro na
imprensa, ocorreu no dia 5 de junho de 2016, logo após passar por reforma.
Pelo que foi divulgado, a
Prefeitura Regional da Lapa teria gasto R$ 150 mil na obra, mas não resolveu o
problema, pois voltou a ser inundada depois de uma forte chuva na região. Para
piorar, a passagem é alvo constante de vandalismo, como a pichação das paredes
e a destruição de 7 das 17 lâmpadas.
praça do Patriarca |
Acionada, a Regional da Lapa, por meio da Secretaria
Municipal das Prefeituras Regionais, informou que “a passagem está funcionando normalmente e
que passa por limpeza periódica”. Resta à população da região conferir e
fiscalizar.
Mas para não dizer que não
falei de flores, o paulistano conta com pelo menos duas passagens subterrâneas
das quais pode usufruir diariamente com segurança, para a sua mobilidade.
A mais importante da Capital sempre foi a
da Galeria Prestes Maia, construída em 1940, aproveitando os espaços vazios da
parte final da estrutura do Viaduto do Chá. Na época, tinha abrigos para
passageiros de ônibus, salões de exposições, garagem e sanitários públicos. A
passagem leva o nome do prefeito de quando foi inaugurada, Francisco Prestes
Maia e liga a Praça do Patriarca ao Vale do Anhangabaú.
passagem Prestes Maia |
Muito utilizada pela população, com um largo e extenso corredor,
têm escadas rolantes, instaladas em 1955, as primeiras inauguradas na cidade, acabamento
luxuoso no subsolo, térreo e mezanino. Neste, fica o Salão Almeida Júnior, com área de 6 mil m2, no momento vazio
e fechado ao público, mas que de vez em quando recebe exposições específicas e
temáticas.
Como consolo, aos turistas que passam pela Galeria, e interessados
em arte, ela exibe permanentemente as esculturas Graça I e Graça II, de Victor
Brecheret, outra de Moisés, cópia feita pelo Liceu de Artes e Ofício, e um
busto de Almeida Júnior.
A Galeria conta hoje com
uma Praça de Atendimento para os servidores, munícipes e pensionistas da
Prefeitura, que reúne os serviços prestados pelo Instituto de Previdência
Municipal (Iprem). Há também uma base da Guarda Metropolitana e um posto da
Ouvidoria Geral do Município.
Quando era prefeita, Marta Suplicy fez uma tentativa de instalar
na Galeria um Museu da Moda, ideia que não vingou. O Museu de Arte de São Paulo
(Masp) chegou a desenvolver atividades no local, mas só restou uma placa de 28
de novembro de 2000 afixada numa parede.
Na principal avenida da cidade
e seu mais famoso cartão postal, a Paulista, funciona desde a década de 70 a
passagem subterrânea atualmente conhecida por Passagem Literária. Está situada
no final da avenida e é conectada com a rua da Consolação.
Inicialmente era só usada como
passagem pelos pedestres que precisavam chegar a rua da Consolação pela Av.
Paulista sem perder tempo na superfície esperando a abertura do semáforo. Mas
era arriscado e perigoso, principalmente á noite. O espaço não oferecia
segurança, exalava mau cheiro, suas paredes eram sujas e pichadas e moradores
de rua dormiam no local.
A partir de 1989, a passagem
foi revitalizada pela então Subprefeitura da Sé, que consertou os vazamentos, melhorou a
iluminação e pintou as paredes. E, desde 2005, por meio de um acordo, segundo
se divulgou, é utilizado pela Associação de Livreiros denominada Via Libris para
ser um corredor cultural.
A entidade surgiu de um
movimento social, organizado pelos livreiros que tradicionalmente vendiam seus
livros usados nas calçadas da rua Augustas. O intuito era transformar um espaço
público vazio num local para a exposição
e venda de fotos, quadros de artistas plásticos, livros raros e antigos, discos
e partituras, a preços acessíveis. Alem de cumprir uma programação artística
com apresentações de conjuntos e/ou músicos solos.
Apesar de realmente funcionar
como uma livraria, o espaço tem problemas, como uma linha de degraus onde
costuma tropeçar quem está consultando e/ou comprando os livros e não percebe o
desnível. Na quarta-feira (7) havia apenas um livreiro atendendo no local e lamentava
que a maioria dos milhares de paulistanos e turistas apenas passa pelo espaço.
E talvez pela falta de interessados, ainda não foi adiante uma iniciativa de fazer
projeções de filmes nas paredes internas da passagem.
A bem da verdade, é bom que se
diga que, de um modo geral, o aspecto interno atual não é dos mais organizados
e atraentes. Mais se parece com um dos muitos sebos existentes pela cidade, e reúne um sem número de livros espalhados em mesas/prateleiras, bem no meio da passagem.
Mas isso não incomoda, por
exemplo, um publico fiel: os grupos de estudantes que fazem visitas guiadas à
Passagem Literária, para suas pesquisas e trabalhos. E olham curiosos para as
paredes totalmente escondidas pela grafitagem e milhares de cartazes de filmes,
fotos e programas. Numa delas está pintado em tinta preta: “Não somos o metrô,
mas a gente leva você para um respiro de arte e cultura”. Que continue assim.
Muito bom, Orlando! Prestação de Serviço e utilidade pública. eu mesma só conhecia a Galeria Prestes Maia. Excelente matéria. Parabéns!!
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