Muita arte, história e lendas
nas igrejas mais antigas de São Paulo (1)
Cerca de 60% da população paulistana é constituída
por católicos, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE. Outros 21% são cristãos,
seguidores da religião evangélica. Segundo a mesma fonte, a maior concentração
está na Zona Sul (65%). Mas apesar de frequentar os templos com assiduidade,
principalmente aos domingos, é pouco provável que a maioria dos fiéis
conheça a história e os tesouros de arte guardados nos altares e tetos, as
valiosas pinturas, imagens e outros objetos sacros no interior das igrejas. Os
templos foram reformados e restaurados desde a sua origem, (alguns datam do
século XVI). Muitos estão envoltos em lendas. E, em grande número, localizados
em diferentes regiões da capital, incluindo o local da fundação de São Paulo,
no Pátio do Colégio, no centro velho, até os bairros da periferia, como o de
São Miguel Paulista, na Zona Leste.
Neste blog, que será dividido em duas publicações,
elaboramos um roteiro, com alguns dados históricos das igrejas católicas mais
antigas da cidade e que justificam uma visita dos paulistanos e turistas que
veem a São Paulo, independentemente da sua opção religiosa.
foto: Yeda Saigh |
Igreja de Santo Antônio
Tombada pelo Condephaat desde 1970, por sua importância histórica, arquitetônica e artística, fica na Praça do Patriarca, no centro da cidade. Considerada a mais antiga igreja remanescente da capital, a data exata da fundação, nas últimas décadas do século XVI, é incerta. O registro mais remoto é de 1592, no testamento do bandeirante Afonso Sardinha. que deixou dois cruzados para a “ermida de Santo Antonio”, uma pequena capela construída por fiéis anônimos no final da atual rua Direita.
A primeira reforma ocorreu em 1638 e, no ano
seguinte, vieram os primeiros frades da Ordem dos Franciscanos, do Rio de
Janeiro. Mesmo após a construção do convento, no Largo São Francisco, em 1647,
eles continuaram a zelar pela capela e a mantê-la em funcionamento. Em 1717, houve
uma grande reforma para ampliar as instalações, por ordem do primeiro bispo de
São Paulo, Dom Bernardo Rodrigues Nogueira e,neste mesmo ano, a ermida
foi elevada à categoria de igreja. Uma terceira reforma aconteceu em 1747 e, em
1774, é fundada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, que
assumiu a administração do templo e fez ali sua sede. Além de fazer outras
modificações que alteraram bastante a fachada da igreja.
Um incêndio em 1891, em edifício vizinho, consumiu parte da igreja. No final desta década, em 1899, a prefeitura intimou a irmandade a demolir e reconstruir a torre e a fachada, para o alinhamento da rua Direita. Tudo foi custeado por Francisco Xavier Pais de Barros, o barão de Tatuí, e pelo conde de Prates, que moravam na região, ainda antes da construção do Viaduto do Chá. As obras se prolongaram por muitos anos e incluíram uma reforma geral da igreja, reaberta com nova fachada, em estilo eclético, em 1919.
Outro incêndio, em 1991, danificou a parte dos fundos do prédio e, em janeiro de 2005, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, foram feitas as obras de restauro, quando se recuperou o estilo barroco do seu interior. Durante os trabalhos, houve a remoção das talhas do século XX, que cobriam os retábulos, e a restauração das pinturas do século XVII, com representação de anjos. O altar-mor, de 1780, também foi recuperado e mostra as cores utilizadas no barroco paulista, em que se destacam o vermelho, o amarelo e o dourado. No seu forro foi descoberta uma pintura seiscentista de boa qualidade técnica e artística, que escapou dos incêndios de 1891 e 1991. As camadas de tintas que cobriam a pintura foram retiradas, permitindo total visualização. Acredita-se que é o afresco mais antigo da cidade, um raro exemplar da pintura autônoma do período colonial.
Um incêndio em 1891, em edifício vizinho, consumiu parte da igreja. No final desta década, em 1899, a prefeitura intimou a irmandade a demolir e reconstruir a torre e a fachada, para o alinhamento da rua Direita. Tudo foi custeado por Francisco Xavier Pais de Barros, o barão de Tatuí, e pelo conde de Prates, que moravam na região, ainda antes da construção do Viaduto do Chá. As obras se prolongaram por muitos anos e incluíram uma reforma geral da igreja, reaberta com nova fachada, em estilo eclético, em 1919.
Outro incêndio, em 1991, danificou a parte dos fundos do prédio e, em janeiro de 2005, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, foram feitas as obras de restauro, quando se recuperou o estilo barroco do seu interior. Durante os trabalhos, houve a remoção das talhas do século XX, que cobriam os retábulos, e a restauração das pinturas do século XVII, com representação de anjos. O altar-mor, de 1780, também foi recuperado e mostra as cores utilizadas no barroco paulista, em que se destacam o vermelho, o amarelo e o dourado. No seu forro foi descoberta uma pintura seiscentista de boa qualidade técnica e artística, que escapou dos incêndios de 1891 e 1991. As camadas de tintas que cobriam a pintura foram retiradas, permitindo total visualização. Acredita-se que é o afresco mais antigo da cidade, um raro exemplar da pintura autônoma do período colonial.
Igreja de nossa Senhora dos Aflitos
A pequena capelinha fica no Beco dos Aflitos,
como é conhecido o beco sem saída, espremida entre prédios, em uma travessa da
rua dos Estudantes, na Liberdade. Aliás, a verdadeira saída para quem frequenta
o local é a própria porta da igreja.
foto: Google |
Foi erguida em 27 de junho de 1779, conforme consta dos registros do Arquivo da Cúria Metropolitana. Mas, segundo o memorialista das ruas paulistanas, Paulo Cursino de Moura em sua obra “São Paulo de outrora’, ela data de 1774. Na verdade, de acordo com os documentos da Cúria, o antigo Cemitério dos Aflitos, e não a Capela, foi construído em 1775, como solução para os problemas com os sepultamentos que eram feitos nas igrejas ou em qualquer lugar. E o cemitério nasceu para atender às necessidades dos negros, que não tinham acesso aos lugares mais adequados para servir como a sua última morada.
Por
volta de 1869, a capela teria passado por uma grande reforma, mas continua tão
apertada como sempre foi. É tão pequena que os fiéis sentam-se nas poucas
cadeiras ao lado do altar, pois a frente já está quase na própria rua. Dizem
que o padre que celebra as missas é o mesmo da Capela das Almas dos Enforcados.
Alias, Aflitos e Enforcados são duas capelas que estão ligadas por sua
história.
Diz
a lenda, que os escravos deixavam os baixos do Carmo, da várzea do Tamanduateí,
e subiam a rua Tabatinguera. Paravam na Igrejinha da Boa Morte e depois seguiam
para o pelourinho, no atual Largo 7 de Setembro, onde viam o sofrimento
dos seus irmãos de cor e destino. Não raro, caminhavam até o Largo da
Forca (atual Liberdade), próximo de onde está hoje a Capela dos Enforcados. Ali
ficavam balançando os corpos dos escravos condenados à morte. Muitos desciam
aos Aflitos e compartilhavam a dor de uma vida sem esperanças. Esta seria a
origem da Capelinha de Nossa Senhora dos Aflitos, a igreja mais escondida do
centro de São Paulo.
Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte
Restaurada em 1980 pelo Condephaat, sua construção, modesta, é feita em taipa de pilão. No seu interior destacam-se a capela-mor com tribunas e um altar com a imagem da padroeira, além das talhas em estilo rococó e neoclássico.
Por sua localização no alto da rua Tabatinguera,
dominava toda a entrada das pessoas que vinham do bairro do Ipiranga para o
centro. Ela ficou conhecida como a "igreja das boas notícias",
anunciadas pelo repicar dos seus sinos. Serviu de sede para várias irmandades,
entre as quais a dos padres agostinianos e a Cúria da Sé, que para lá se
transferiu durante a construção da nova catedral.
Capela da Santa Cruz dos Enforcados
foto : Google |
A construção desta
Igreja, também conhecida como das ”Almas”, teve origem após a condenação à
forca, em 1821, véspera da Independência do Brasil, do cabo Francisco José das
Chagas, o Chaguinhas, por ter liderado uma revolta do Primeiro Batalhão de
Caçadores, em Santos, onde servia. O motivo do movimento: obter aumento do
soldo e igualdade no tratamento de soldados brasileiros e portugueses.
São
Paulo estava sob o governo provisório e a rebelião em Santos foi severamente
reprimida. A condenação de Chaguinhas chocou a provinciana cidade de São Paulo,
no início do século XIX. Todos conheciam e admiravam o menino pobre e sem
ofício, que cresceu na rua das Flores, atual Silveira Martins, próximo à Igreja
do Carmo, que fazia pequenos serviços e nadava nas águas do rio Anhangabaú..
A
chance de um futuro melhor fez com ele prestasse o serviço militar em Santos,
onde chefiou a rebelião que o levou à forca. Ela foi erguida no atual Largo da
Liberdade e a execução ocorreu no dia 20 de setembro de 1821. Antes, foi o
soldado Contindiba, seu companheiro também condenado. Mas, na vez de Chaguinhas
a corda arrebentou e ele caiu, enquanto o povo gritava “Liberdade!”. Era
costume perdoar o condenado ou comutar-lhe a pena, nestes casos. Porém, o
governo manteve a execução. Só que a corda se partiu de novo. E então o povo
gritou “Milagre!”. Mas o Chaguinhas foi enforcado na terceira vez.
A
injustiça, associada ao milagre, fez surgir uma devoção imediata no local. O
povo acendeu velas e ergueu uma cruz. Dizia-se que nem vento, nem chuva
apagavam as velas e depois de muito tempo foi construída uma capela. Teria sido
em 1887, segundo Miguel Milano em seu livro “Fantasmas de São Paulo”. Mas outra
documentação revela que a primeira missa foi celebrada em 1º de maio de 1891 e
este seria o ano de sua fundação. Com a autorização, dada em abril de 1911 à
Irmandade de Santa Cruz dos Enforcados, pelo arcebispado que já havia sido
criado nesta época, foi oficializado que a festa da igreja seria sempre no dia
3 de maio..
Documentos
do Arquivo da Cúria Metropolitana informam que a capela passou por reformas
significativas na década de 20. No ano do jubileu, em 2.000, houve um incêndio
provocado pelas velas depositadas por uma devota. Outros pequenos incêndios
ocorreram desde o início do século XX, mas a igreja das Almas não teve maiores
danos e permanece em seu lugar de origem.
Igreja e convento de São Francisco
foto : Yeda Saigh |
Três dos mais importantes marcos históricos de São Paulo estão reunidos no tradicional Largo de São Francisco. Eles integram o principal conjunto de arquitetura barroca da cidade: as Igrejas São Francisco de Assis e das Chagas do Seráfico Pai São Francisco e a Faculdade de Direito.
A Igreja de Ordem Primeira, mais conhecida como
Igreja de São Francisco de Assis, teve construção iniciada em 1642 e foi
inaugurada em 1647. É de taipa de pilão e as paredes têm 1,5 metros de
espessura. Ganhou características barrocas com as obras de reformas durante o
século XVIII e, a partir de 1884, a fachada foi modificada e a entrada
central aberta. A história dos frades franciscanos é mostrada em imagens, no
interior do templo, e chamam a atenção algumas portuguesas, de grande valor,
como a de São Francisco, considerada a mais bela existente em um convento
franciscano no país, além de pinturas da Virgem e de São Benedito.
Depois de fazer parte do complexo, e de abrigar a
Faculdade de Direito da USP a partir de 1827, o prédio do Convento foi demolido
em1930 e surgiu no local uma construção mais ampla, em estilo neo-colonial,
concluída em 1934. É a famosa Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a
mais antiga do Brasil e referência na sua área de atuação. A biblioteca aberta
ao público tem cerca de 300 mil títulos, muitos de autoria de ex-alunos
como Rui Barbosa, Castro Alves, Monteiro Lobato e Álvares de Azevedo.
Já a primitiva capela que deu origem à Igreja
Chagas do Seráfico Pai Francisco começou a ser construída em 1676 e foi
concluída em 1787. Após uma ampla reforma para ampliação foi tombada como
patrimônio histórico em 1982. Seu rico acervo tem bustos de terracota do século
XVII, estátuas de santos e documentos do século XVIII, castiçais banhados em
ouro e pinturas em tela e nos forros. Os altares, folheados a ouro e as
estátuas representam as fases clássica, primitiva e posterior do estilo
barroco.Também são destaques as pinturas de José Patrício da Silva Manso que
retratam passagens da vida de São Francisco.
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Amor, você é e sempre será um jornalista que chama a atenção dos leitores completamente absortos pelas matérias que escolhe. Que Deus te conserve assim por muuuuito tempo. Tenho orgulho em ser sua esposa. Beijo.
ResponderExcluiramor, além de tudo,dvoce é a minha leitora favorita. Bjs.
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